sexta-feira, 1 de agosto de 2008

*Procura o isqueiro*

Deveria estar cansado desse mundo fajuto, sem jeito, sem cola que cole;
Deveria ter desistido de viver no escuro, onde o sol é pouca luz para a minha escuridão;
E no mundo há pouca gente para a minha solidão.
*Acende o cigarro*
E vez ou outra eu queria não passar de uma fumaça como essa
Que se espalha nas moléculas de ar e em segundos não é mais nada
Nem ninguém vê e nem ocupa lugar algum no espaço.
Melhor que eu, essa fumaça pode ser melhor que eu, meu amor.
*Dá um trago*
E eu te trago em minhas mãos uma lembrança sem infância
Uma saudade sem vontade, foi o costume que me fez sentir.
*Solta a fumaça*
Eu trago em minhas mãos o reforço, a vigilância
Sem o gosto da vingança nem do medo sonolento
Apenas desejos machucados pelo tempo
E o vício incontrolável de te ver sorrir.
*Outro trago*
E cá estão meus sonhos tronchos
*Solta a fumaça*
Enfraquecidos como a força que eu tinha aqui por dentro
Que algum coração descontrolado me quebrou quase por inteiro
Foi de um anjo, era de um anjo, um anjo traiçoeiro
Mas cá estou eu, de pé.
*Levanta-se*
Agora não me venha com ladainhas de adolescentes
*Apóia o cigarro no cinzeiro*
Você ainda não se sentiu como eu, não desejou ser a fumaça de um cigarro qualquer
Uma fumaça que cega os olhos e eu não posso mais te ver
Que cala o meu silêncio e eu nem sequer posso me calar
Então me ouça, me ouça desta vez quando digo que estou cansado
E tudo o que eu quero é que você se ponha desta porta para fora
Não quero suas indecisões, nem lamentações, nem quero sua rebeldia
Não quero sua lição de moral, seus conselhos, sua opinião
Quero o seu silêncio de cada dia e além de tudo...
*Senta-se, pega o cigarro e traga*
Eu quero ser isso:
*Solta a fumaça*
Uma fumaça de um cigarro qualquer, para poder sumir no espaço e tocar fogo em uns pulmões que não me farão a menor falta.

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