domingo, 7 de junho de 2009

Olhos que vivem em dor.


E a lágrima foi interrompida pelos risos, e estes se tornaram contínuos, como antigamente.
E formavam uma canção que eu não sei cantarolar agora, mas era muito mais bonita que o canto das lágrimas, muito mais bonita que o canto da dor. E sim, foi culpa dele.
O tal menino que atordoava as pessoas afirmando coisas com tanta convicção mesmo nem sabendo se eram fatos verídicos, e sempre alguém ia discutir, mas quem se importava se alguém tinha razão?
Aí ele chegava, falava umas coisas que podiam ser interpretadas de diversas maneiras e todo o sentimento que ali existia ia se tornando cada vez mais atônito, mais confuso. E ele, o rapaz, era sempre muito sincero por preferir que doesse tudo de uma vez a ir machucando aos poucos. Mal sabia ele que o coitado não tinha a menor culpa, que era o jeito qualquer dele que atraía os olhos atenciosos.
Olhos estes que eram procedentes de um coração que palpitava e que clamava o coração dele para uma dança a dois, e este termo oriundo era sempre em vão, o coração do menino estava sempre cansado demais para dançar mais um pouco. Mas os corações trocavam olhares e quando estes olhos tentavam se fechar para dormir já era manhã e era um novo dia de guerra, de batalha e ninguém queria sair perdendo. Haja força. Bem que elogiavam “Eu não conseguiria ser tão forte como você consegue ser”, mas era o mínimo que tinha a se fazer, manter-se de pé.
Os dois fugiam tentando se distanciar o máximo possível um do outro, fugiam fingindo que iam ali para voltar a qualquer instante por qualquer motivo, mas precisavam ir. Então fugiam, iam embora para o lugar menos provável e sempre se encontravam. Afinal, o dia inteiro correndo do que estava preso do lado de dentro cansava as pernas, então iam parar em Amsterdam, os dois indivíduos cansados e sem a menor gota de coragem para admitir que sabiam onde encontrar um ao outro sem querer. Sem querer.
E a fumaça subia, subia e se perdia no ar. E enquanto uns olhos seguiam a fumaça, os outros dois olhos seguiam os olhos anteriores procurando poesia, sempre encontravam. Os olhos daquele rapaz eram poetas, rimavam com as direções, havia versos brancos, uns versos simples, outros mais ariscos, outros mais românticos e toda a literatura do peito dos olhos que seguiam olhos estava estampada no olhar daquele menino que tinha a jóia mais rara no coração e não queria cuidar por ter medo de deixar cair no chão.
Vê se dá para acreditar, medo de deixar cair no chão. Sabia-se que ele era capaz de não deixar, sabia-se que ele conseguiria reciprocidade, conseguiria um cuidado maior, amar e amado ser, mas o que mais incomodava era que ele não queria arriscar.
Quem se viu? Diga, quem se viu ter medo de arriscar quando se tem uma vida?
Mas nada tinha a se fazer. Ele sabia que não lhe faltaria atenção, mas ser deixado de lado parecia ser a intenção verdadeira. Não faltariam risos, mas quando em excesso lhe incomodavam. Nem lhe faltaria companhia, ele nunca ficaria sozinho, nem que sua companhia ficasse sentada do outro lado do quarto, em silêncio para nem incomodar, mas a solidão parecia ser para ele o presente ideal. Ele tinha medo do amor.
De novo amor, o dito cujo que tirava o certo do lugar e que fazia o incerto ter razão. Sim, o único culpado por fazer o incerto ter razão. O escuro, o pardo, a sombra, a penumbra, o frio, o amor, o próprio. O gracioso que cegou os olhos que tanto piscavam no início do texto, que fez fechar para sempre as portas que davam destino à felicidade.
O estúpido amor, ou como ele mesmo diria, “o palerma”.
Enquanto ele pisava nesse medo, o coração lá de cima dançava sozinho. Vez ou outra ia para o jardim, sentava no chão – mesmo no sereno – e fumava um cigarro sem ter vontade de fumar, só para cessar a morbidez. Enquanto se julgava pacóvio, estúpido, palerma, mesmo sabendo que não tinha a menor culpa.
Essa dor uma hora vai passar, todas as pessoas bem sabem disso. Vai haver a demora, a angústia, a vontade de rasgar o peito e tirar tudo de dentro acreditando que o oco não vai fazer eco, mas vai. E vai ecoar para sempre, por todo o tempo, por toda a eternidade. E os olhos vão buscar por todo esse tempo uma maneira mais prática ou menos prática, mas eficácia para demolir essa dor que já estava subindo andares, acreditando piamente que vai parar. Não vai, tende a ser menos freqüente, tende a diminuir o ritmo, adormecer, doer menos ou o que seja, mas enquanto houver amor, vai doer e isso nem Freud explica.

segunda-feira, 1 de junho de 2009


"Para entender o nosso amor
é preciso virar o mundo de cabeça para baixo."