quarta-feira, 22 de julho de 2009

A conclusão foi inevitável, ela era tudo o que ele queria. Era essa que era igual às outras, ela tinha o sorriso igual ao das outras, ela tinha o gosto musical igual ao das demais, ela tinha até o corte de cabelo igual ao das demais. Mas Ela não. Ela era diferente, ela era mais, muito mais que as demais. Eu tinha que te dizer.

domingo, 19 de julho de 2009

Disritmia - Martinho da Vila.

"Eu quero me esconder debaixo dessa sua saia prá fugir do mundo
Pretendo também me embrenhar no emaranhado desses seus cabelos
Preciso transfundir seu sangue pro meu coração que é tão vagabundo.
Me deixe te trazer num dengo prá num cafuné fazer os meus apelos.
Eu quero ser exorcizado pela água benta desse olhar infindo
Que bom é ser fotografado, mas pelas retinas dos seus olhos lindos
Me deixe hipnotizado prá acabar de vez com essa disritmia
Vem logo, vem curar seu nego que chegou de porre lá da boemia.
Eu quero ser exorcizado pela água benta desse olhar infindo
Que bom é ser fotografado, mas pelas retinas dos seus olhos lindos
Me deixe hipnotizado prá acabar de vez com essa disritmia
Vem logo, vem curar seu nego que chegou de porre lá da boemia
Me deixe hipnotizado prá acabar de vez com essa disritmia
Me deixe hipnotizado prá acabar de vez!
Vem logo, vem curar
Vem curar seu nego que chegou
Que chegou de porre lá da bo
Lá da Boemia."

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Levanta devagar e chora.


Pois não, minha princesa. Eu sei que há vários dias você está um tanto adoentada e sabe-se lá como e porque, mas além de tudo está surda temporariamente de um ouvido. Mas minha linda, você precisa reagir. Nós duas sabemos o quanto não interessa ter tantos homens em mãos quando nenhum cabe direitinho no lado de dentro do peito, nós duas sabemos. Você fez a escolha certa quando disse para ele e para o outro lá que nada do que possa ser feito vai ser mais importante que a sua decisão nada precipitada.
Minha princesinha, eu sei que essa surdez lhe incomoda bastante, mas ela já já vai passar, você vai ver. Deixe agonia e preste atenção no que eu estou falando. Além do mais, você me ensinou a ver um lado positivo em cada coisa que acontece na vida e não é agora que você vai deixar essa tese de lado. Minha linda, sorria, uma vez só. Você lembra da festa que faziam quando seu sorriso abria e trazia luz? Eu não quero te ver entregue às baratas, não quero te ver procurando um caminho que você até mesmo já sabe que não lhe levará a lugar algum, eu não quero chorar no seu túmulo agora, meu anjo, reaja. Levante desta morbidez, rainha, levante. Levante porque o mundo visto daqui de cima é muito mais bonito, muito mais interessante. Pare de pensar nele, de pensar se ele está pensando em você, não importa se ele pensa em você, importa que a vida é muito mais ampla que o espaço que ele ocupa na terra. Menino portador de uma matéria irrelevante, minha linda, ele não pode ocupar o seu lugar no espaço.

Minha menina, eu te amo a ponto de te fazer chorar se for necessário para te forçar a encarar o mundo. Levante deste inferno. Se as pernas lhe doerem você apóia no meu ombro, se o peso nas costas for maior do que você acha que pode suportar, segure em mim. O importante é que o peso da consciência seja mais leve que uma pluma branca como a dos pombos que vivem sobrevoando o nosso jardim. Minha princesa, o nosso jardim. Faz sete dias que você nem sequer abre a janela, você sabe o quanto as borboletas fazem questão do seu perfume, mais ainda que o das flores. Você está morrendo, menina, morrendo. Entregando-se à sepultura de um rancor tão vivo, para que? Morrendo em troca de nada, morrendo em troca de um aplauso de saudade. Em troca de rosas murchas sendo jogadas em cima de ti para dar uma coradinha na pele pálida. Eu não quero te assistir morrer.

Minha princesa, minha princesa, você não estava errada quando disse tudo o que queria dizer, seu coração falou por si só. Ele não vai se machucar e se sim, é uma pena, mas nós duas não nos importamos, entendeu? NÃO nos importamos. Eu sei que há vezes que ele te diz que vai ligar e que precisa conversar com você, mas essa é a hora que você não quer mais saber, a hora que você está cansada da voz dele, a hora que pensar nele dá náuseas. Você me disse da outra vez, você me disse. Por que essa ceninha agora? Você já falou para ele, menina, você já falou. Sua vida é sua e a dele ele que escolha de quem é, escolha para quem dar. Esse é o instante em que você chega bem séria e fala que não pretende manter contato. Você não precisa de nada disso, mulher, não precisa. Ele te olhou com desprezo, cochichou no ouvido da outra e foi passar a noite na casa dela. Devem ter assistido um filme e tomado sorvete, como dois amiguinhos adolescentes. Tsc tsc tsc, minha linda, você não precisa disso, nunca precisou. Você nem o ama, nem sequer sente pontadas no coração quando ele está por perto, para que isso agora?

Repete, vai. Menina, menina, levante deste chão, joga esta merda de aflição para cima e corre para viver antes que ela caia na sua cabeça novamente. O outro lá nem sequer leu a sua cartinha, disse que era emocionante porque deve ter lido o “P.S.: Eu te amo” no final, porque era o que mais chamava a atenção e mais ainda porque infelizmente aquele ali você ama de verdade. Mas ninguém vive de amor não, nem morre. Fui límpida como as águas claras do Oceano Índico? Assim espero, não conseguiria ser bem mais.

Você tem metas, garota, tem sonhos. Você não pode deixar tudo para trás agora porque um órgão muscular gritante aí dentro está fazendo a festa, deixe o seu cérebro se impor, ele sempre faz isso e sempre faz muito bem.
Clássico! Típico de garotas que passaram a vida inteira fugindo do amor e quando não tiveram mais para onde ir, se jogaram no chão.

Minha linda, hoje o dia inteiro vai estar nublado, eu vi no jornal pela manhã. Que tal aquele passeio pela orla? Ou um sorvete, um chocolate quente, ou bem melhor que isso, café com pão de queijo. Que tal? Vamos, menina, vamos. Levanta desta porcaria de chão porque quando se está aí não se tem mais para onde ir, o chão é o limite. Venha, gatinha, venha logo que eu já estou juntando formigas de tão doce que estou. Nhén nhén nhén.


sábado, 4 de julho de 2009

Nem se soubesse.



Ele não sabe. Não sabe qual livro eu mais gosto, nem porque eu parei de ler Sangue na Neve e porque até hoje eu prometo escrever um livro e nunca dá certo. Nem sabe bem ao certo porque nós dois não daremos certo. Falando em livros, há quem ache Henry & June a minha cara, por motivos relevantes e como já devem bem saber, ele nem conhece esse romance. Ele nem sequer quer conhecer mesmo sabendo que eu gosto tanto, nem quer um motivo, não se importa. Não sabe porque eu mudei de perfume, não sabe das minhas lembranças, nem porque certas coisas me dão dor no estômago. Ele nem se importaria com minhas dores no estômago.
Não se interessa em saber porque eu fico em silêncio umas vezes e noutras eu falo pelos cotovelos. Nem se interessa em saber por que às vezes eu quero ficar mais tempo e porque em outras eu quero ir embora, e m b o r a .
Não, ele não sabe o que eu tenho em mente e nem das coisas que eu tanto tenho para falar e nunca falo, não por nada, nem esperando o tal momento certo, mas porque há vezes que eu sei que o silêncio fala muito mais bonito do que eu.
Ele nem sabe, meu jovem, nem sabe o quanto sinto saudades, nem o quanto amo, nem o quanto espero e nem o quanto sei fingir que está tudo bem, fingir que está tudo certo.
E quando nada está nos eixos eu passo a ser ela e quanto a ela, ele não sabe de nada ainda, ou já. Não sabe se ela vai cortar o cabelo, se prefere Fanta, se parou de usar drogas ou se ainda fuma Marlboro. Sabe apenas do bolo de banana que ela aprendeu a fazer com a avó, até diz que fica divino. Mas ele não sabe mais nada, não sabe se ela prefere o café muito quente, morno, frio ou se prefere água. E se soubesse, não lhe serviria.
Não sabe o quanto ela gosta de rosas, nem isso ele deve saber.

Quanto ao vermelho, ele sabe menos ainda.
O vermelho. Esta última noite o vermelho que ele odeia estava no cabelo dela, nas roupas, nas unhas, nos lábios, nas veias, nos olhos, no peito. E no peito era um vermelho vivo, escorrendo e escorrendo, sabe lá o tamanho daquela dor que lhe fazia encharcar a alma, sabe-se apenas que era frio, era constante e quando chegava no chão, o vermelho talhava. Talhava. E aquele cheirinho de vida morrendo era o que lhe fazia sorrir. O sangue.
O vermelho que ele tanto abominava era o que a sustentava em pé e com isso ele também não se importava.
E enquanto ela viajava no nada, nas bobagens, ele achava que era o último biscoito do pacotinho, a última Coca-Cola do universo, sem saber que muitos não gostam de biscoito e outros preferem só a Coca, a tal da Cocaína. E ela? Ela gostava mesmo era dos três. Que mentira.
E ele continuava sem saber, se ela ia chegar cedo, se as lágrimas eram da tal irritação nos olhos ou era uma irritação interna, daquelas que não dá para aliviar com uma gotinha de colírio. Sem saber, sem saber de nada. Sem saber porque bebia tanta água, sem saber se havia aprendido a bater de bomba no dominó sem passar a perna no adversário.

Não sabia se ainda desejava matar alguém para sentir a vida escorrer por entre seus dedos e não sabia menos ainda se a menina já havia aprendido a dirigir. Ele não sabia a sua cor favorita, seu programa favorito, não sabia se ela ainda preferia ouvir o velho Michael Jackson ou uma das novas bandas que querem chegar causando. Ele não queria nem saber.

Nem sabia porque ela gostava tanto dos coringas da sua perna, porque ela tinha um fascínio por jogos e porque ela sempre dizia que ia parar de fumar e depois de três anos esse momento ainda não havia chegado. Ele não sabia porque.
Se ela chorava, se ria, se gritava e se sumia eram motivos pessoais, não lhe cabiam.
Se nada, era nada, também não lhe cabia.
Enquanto ela o amava, ele a olhava amá-lo, deveria ser a cena mais bonita. Eu não sei por nunca ter visto ninguém olhar para mim com olhos de ternura, ternura o suficiente para me consumir por inteira, como os dela faziam.
Ela morria sem ele saber, ele morria sem saber dela.
Ele não sabia, não sabia para onde ela ia e nem por que ia e nem se de fato gostaria de ir, não sabia se ela ia mudar a cor do cabelo, se dormia com a mesma boneca, se sofria do antigo Transtorno Obsessivo Compulsivo relativo aos interruptores das escadas que subia no seu prédio. Ele não sabia nem se ela morava no mesmo prédio.

Ele não sabia, ele não queria saber, e ela ainda assim o amava e ele morria sem saber.
Ela era forte, era resistente. Quando escorriam, suas lágrimas derretiam avalanches, a pressa era a velocidade da luz. Ela era inofensiva, mimosa, simplória, até adocicada, mas não muito para não juntar formigas. Ela não era perigosa, não era fatal, ela só não se deixava amedrontar, não deixava passarem por cima dela. Ela era fria às vezes, mas quando ele passava tempos sem aparecer, ela ia derretendo aos poucos, aos pouquinhos, pouquinhos. Por que ela não dizia para ele o quanto o amava? Ela não dizia para ele o quanto amava. Para ele, não importava o quanto ela o amava. O quanto ela o amava? Quem sabe? Quem vai saber? Quem quer saber? Ele também não quer saber.