quarta-feira, 15 de julho de 2009

Levanta devagar e chora.


Pois não, minha princesa. Eu sei que há vários dias você está um tanto adoentada e sabe-se lá como e porque, mas além de tudo está surda temporariamente de um ouvido. Mas minha linda, você precisa reagir. Nós duas sabemos o quanto não interessa ter tantos homens em mãos quando nenhum cabe direitinho no lado de dentro do peito, nós duas sabemos. Você fez a escolha certa quando disse para ele e para o outro lá que nada do que possa ser feito vai ser mais importante que a sua decisão nada precipitada.
Minha princesinha, eu sei que essa surdez lhe incomoda bastante, mas ela já já vai passar, você vai ver. Deixe agonia e preste atenção no que eu estou falando. Além do mais, você me ensinou a ver um lado positivo em cada coisa que acontece na vida e não é agora que você vai deixar essa tese de lado. Minha linda, sorria, uma vez só. Você lembra da festa que faziam quando seu sorriso abria e trazia luz? Eu não quero te ver entregue às baratas, não quero te ver procurando um caminho que você até mesmo já sabe que não lhe levará a lugar algum, eu não quero chorar no seu túmulo agora, meu anjo, reaja. Levante desta morbidez, rainha, levante. Levante porque o mundo visto daqui de cima é muito mais bonito, muito mais interessante. Pare de pensar nele, de pensar se ele está pensando em você, não importa se ele pensa em você, importa que a vida é muito mais ampla que o espaço que ele ocupa na terra. Menino portador de uma matéria irrelevante, minha linda, ele não pode ocupar o seu lugar no espaço.

Minha menina, eu te amo a ponto de te fazer chorar se for necessário para te forçar a encarar o mundo. Levante deste inferno. Se as pernas lhe doerem você apóia no meu ombro, se o peso nas costas for maior do que você acha que pode suportar, segure em mim. O importante é que o peso da consciência seja mais leve que uma pluma branca como a dos pombos que vivem sobrevoando o nosso jardim. Minha princesa, o nosso jardim. Faz sete dias que você nem sequer abre a janela, você sabe o quanto as borboletas fazem questão do seu perfume, mais ainda que o das flores. Você está morrendo, menina, morrendo. Entregando-se à sepultura de um rancor tão vivo, para que? Morrendo em troca de nada, morrendo em troca de um aplauso de saudade. Em troca de rosas murchas sendo jogadas em cima de ti para dar uma coradinha na pele pálida. Eu não quero te assistir morrer.

Minha princesa, minha princesa, você não estava errada quando disse tudo o que queria dizer, seu coração falou por si só. Ele não vai se machucar e se sim, é uma pena, mas nós duas não nos importamos, entendeu? NÃO nos importamos. Eu sei que há vezes que ele te diz que vai ligar e que precisa conversar com você, mas essa é a hora que você não quer mais saber, a hora que você está cansada da voz dele, a hora que pensar nele dá náuseas. Você me disse da outra vez, você me disse. Por que essa ceninha agora? Você já falou para ele, menina, você já falou. Sua vida é sua e a dele ele que escolha de quem é, escolha para quem dar. Esse é o instante em que você chega bem séria e fala que não pretende manter contato. Você não precisa de nada disso, mulher, não precisa. Ele te olhou com desprezo, cochichou no ouvido da outra e foi passar a noite na casa dela. Devem ter assistido um filme e tomado sorvete, como dois amiguinhos adolescentes. Tsc tsc tsc, minha linda, você não precisa disso, nunca precisou. Você nem o ama, nem sequer sente pontadas no coração quando ele está por perto, para que isso agora?

Repete, vai. Menina, menina, levante deste chão, joga esta merda de aflição para cima e corre para viver antes que ela caia na sua cabeça novamente. O outro lá nem sequer leu a sua cartinha, disse que era emocionante porque deve ter lido o “P.S.: Eu te amo” no final, porque era o que mais chamava a atenção e mais ainda porque infelizmente aquele ali você ama de verdade. Mas ninguém vive de amor não, nem morre. Fui límpida como as águas claras do Oceano Índico? Assim espero, não conseguiria ser bem mais.

Você tem metas, garota, tem sonhos. Você não pode deixar tudo para trás agora porque um órgão muscular gritante aí dentro está fazendo a festa, deixe o seu cérebro se impor, ele sempre faz isso e sempre faz muito bem.
Clássico! Típico de garotas que passaram a vida inteira fugindo do amor e quando não tiveram mais para onde ir, se jogaram no chão.

Minha linda, hoje o dia inteiro vai estar nublado, eu vi no jornal pela manhã. Que tal aquele passeio pela orla? Ou um sorvete, um chocolate quente, ou bem melhor que isso, café com pão de queijo. Que tal? Vamos, menina, vamos. Levanta desta porcaria de chão porque quando se está aí não se tem mais para onde ir, o chão é o limite. Venha, gatinha, venha logo que eu já estou juntando formigas de tão doce que estou. Nhén nhén nhén.


Nenhum comentário: