sexta-feira, 27 de março de 2009

Menino sem futuro.

Às vezes fica vazio, fica limpo, sem ninguém
Me disseram que será assim para sempre, com intervalos bem pequenos

Pois eu já sabia, e sabia muito bem.
Enquanto ele não queria nem saber
Continuava fumando loucamente e bebendo sem parar

Ficava dentro do banheiro e eu nunca sabia se ia voltar
Era o meu menino, meu menino sem futuro.
Morria por dentro e por fora, todos os dias
Dormia com tanta pressa e com tanto medo de acordar
Ele era uma poesia de Álvares de Azevedo
O menino era o medo da multidão
Era o sangue do crepúsculo que escorria sem parar
Sorte dele não parar.
Vez ou outra, sem querer, ouço gritos sem precisão
Os gritos me ensurdecem num silêncio de se estranhar
Aqui dentro
Deve estar um grande caos e quer saber?
Estou sempre ocupada demais
Eu sempre sinto mais saudades
E eu amo muito mais
Quero muito mais
Dói aqui dentro muito mais do que pode ser descrito em palavras tão medíocres
Mas você sabe
Eu estou sempre ocupada demais.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Quem? Malditos.


Tantos anos, tantos risos, tantos gritos, tantos sons
Uma cadeira de balanço, muito frio, muito choro, muito medo
De que você tem medo?
Solidão.
Tanta fé, tanta falta, tanta sina, emoção
Uma cama, uma coberta e o coração já no chão
Quem é a sua base? Quem lhe chama mais a atenção?
Quem sabe?
Quem quer saber?
Os olhares invejosos, a independência, o impávido colosso
Saber sem querer saber, sentir sem querer sentir e morrer de lamúria
Pois eu te amo
Eu te amo por inteiro por nunca ter conseguido aprender a amar pela metade
E se soubesse, seria em vão.
Eu te amo por inteiro por não saber o que é amar só no esboço
Só no capricho, na piada, na modinha criada pela sociedade hipócrita
Hipocrisia, bem lembrado.
Mas quem sabe? Você sabe?
Onde está? Onde é? Como é?
Regras para comer com garfo, faca e colher
Não quero mais, quero só minhas mãos.
Pois eu quero é ficar por aqui, sentada por aqui mesmo
Aqui nesse chão seco onde nem uma mudinha cresce
No silêncio delas que só elas sabem ter
Aqui nesse chão que já beijou joelhos por demais
Que já secou lágrimas sofridas por demais
Que já apoiou quedas, quedas por demais
Agora tem mais é que ficar no frio e na solidão porque é longe demais de qualquer lugar
Aqui não é o Leblon.
Aqui não é o paraíso, aqui não é nada
Para onde ir? Você tem onde ficar? Vai com quem?
Quem sabe? Quem quer saber?
Cabum!
Acabou-se foi tudo, meu rapaz.
Enxuga esse rosto que a estrada é longa, o vento se desfaz e a fome chega ligeiro, sem delongas. Levanta desse chão quente porque o sol não tem piedade não e coloca esse chapéu na cabeça que é aí que ele deve ficar.
Quando não tem quem ama, nem ninguém esperando em casa e nem nenhuma criança te abraçando e nem pedindo de mamar, não tem por quem chorar. Então deixa de demora que hoje é noite de lua cheia e eu quero ficar longe dos matos, longe dos terreiros e mais longe ainda desse lugar, eu quero estar longe, independente de até onde eu consiga chegar.

domingo, 15 de março de 2009

Cada um no seu quadrado.


Eu acredito que se cada um cuidasse da sua vida o mundo todo seria mais interessante. Se cada um varresse a sua calçada, a cidade ficaria mais limpa. Se cada um se responsabilizasse pelo filho que tem, nas ruas teriam menos marginais. Se fechasse a torneira quando fosse escovar os dentes, as lágrimas não seriam os vestígios de água daqui a poucos anos. Se aprendessem a ver um casal gay caminhando na rua e não apontassem, geraria menos revolta, menos conflitos, menos comentários maldosos, custa tão caro assim olhar somente para o próprio nariz? Por que a vida das outras pessoas é sempre mais interessante?
E quando você resolve tentar combinar aquela saia laranja com aquela blusa verde-cor-de-vômito e aquela plataforma esplêndida que sua tia (que tem um péssimo gosto para cores tendentes) esqueceu no seu armário e sai desfilando pelas ruas da sua cidade pacata e acha que é a personificação da Gisele Büchen – Foda-se como escreve o nome da Tópi módeu - e alguém te aponta o indicador ou passa te olhando com o rabo do olho, como você se sente? Um estranho? Você está no mundo porque te convidaram para entrar – e ainda convidaram num instante que provavelmente era o auge bem... da felicidade do casal – e você ainda tem que passar por certos constrangimentos porque as pessoas depois de mais de dois mil anos ainda não aprenderam a lidar com as diferenças, você acha isso interessante? Suponho que não.
Suponho porque meu cabelo está pintado de vermelho e as pessoas não param de olhar, e umas garotas viram para o lado e cochicham, mas depois sem querer querendo uma ou outra vem conversar e diz que sempre quis fazer isso também, mas nunca teve coragem.
O que estou tentando relatar é que todas as pessoas já foram apontadas na rua, e todas já apontaram também, não adianta ser hipócrita quando quer dar uma de Dona da Razão.
Acontece que se for fazer uma parcial por escrito de quantas pessoas você não queria nem ouvir falar o nome por um tal de disse-me-disse, as árvores da Amazônia vão sumir mais depressa.
A roupa que você usa, a cor do meu cabelo, o instrumento que ela aprendeu a tocar não relata nada, o âmago do que ela sente é só dela. O físico não faz ninguém mais ou menos inteligente não, não faz ninguém melhor ou pior que os outros. Estão entendendo ou estou falando rápido demais?
Ora, porra, viu? As pessoas agora vão ter que sair pedindo autorização para serem o que querem ser e fazerem o que querem fazer? Inacreditável.
Estamos no século XXI e facilmente encontramos garotas aos doze anos vendendo o corpo por menos de vinte reais (Sim, eu disse Vinte), facilmente encontramos gente vivendo sem ter como viver, gente morando embaixo de ponte, garotas engravidando de deus e o mundo, pessoas matando por um Iphone, minha gente! (Nossa vida, diante das portas do mundo na qual vivemos, vale menos que um Iphone.) Facilmente encontramos policiais com o cu na mão enquanto as ruas se transformam em um verdadeiro cabaret, é inviável não compreender a idéia de que isso nunca vai acabar. Caminhando nesse ritmo e principalmente nessa direção, não vai mesmo.
O mundo está sendo destruído e as pessoas ainda se importam com a sexualidade do cara ao lado, ainda se propõe a julgar alguém por amar um outro alguém do mesmo sexo. O cu é vosso, façais o que quereis.(?) Hahaha.
É um absurdo, meu rapaz, é um absurdo. Ou relatando a filosofia da magnífica Sandy e do saudoso Junior, dig dig joy dig joy popoy.
Tem tanta gente que faz coisa pior às escondidas, então sai de debaixo dos panos, humilha um aqui, humilha outro acolá, ganha créditos dos otários que o acham a bola da vez, a rôla que matou o Cazuza e depois volta para baixo dos panos e tome, tome, tome. Igual, pior, mais dolorido, menos, não sei, não me interessa. Por que deveria interessar a mais alguém? E por que por baixo dos panos é tão mais fácil de aceitar? É por que não tem ninguém o olhando, eu acho. Ou talvez porque os dois estão na mesma situação e um não tem como julgar o outro e pelo menos assim cada um vai ter alguém para chantagear quando estiver à beira da loucura, em abstinência e dependendo de um carinho bobo para poder prosseguir. Ah, viagem maluca, esse povo não sabe mesmo o que faz.
E ainda há quem diga que certo foi Sócrates que se matou antes que o matassem, mas por favor, o velho morreu aos setenta, deu o que tinha que dar e no final ainda disse “Só sei que nada sei”, e foi mais feliz que muito filhodaputa que queria calar a voz dele. Ele calou sozinho, mas ainda hoje ecoa. Mas que se arrombe, o assunto não é ele.
Esse machismo não leva ninguém a lugar nenhum e também não é motivo de graça não, cada um paga a sua conta, cada um paga o seu IPTU em dia e a dívida com o Estado fica quitada, a dívida com a sociedade também, então para que se intrometer?
É simples, é cada um cuidar do próprio rabo para que ele não fique preso quando o vento bater a porta com força.Bem, que seja.

Sábado - 14/03/09


Querido diário,

Ontem eu finalmente conheci o Henrique pessoalmente. Este é um rapaz que conheço há alguns meses porém apenas pela internet, então saímos com o Gustavo - que ele já conhece há anos - e o Kadu - que ele acabara de conhecer.
Ele (O Henrique) é um rapaz muito bonito, fala bastante e sobre coisas que são deveras interessantes e até parecem sem sentido, mas sempre têm e eu gosto disso (o problema é que ele também fala muito de “mulé” e isso dá nos nervos. Por que todo homem é assim? Enfim).
Henrique é engraçado, mas nunca responde às minhas perguntas, acho que ele não gosta de mim (ou delas - as perguntas).
Ele gostaria de ter nascido em Salvador (ou Jamaica, eu sei) e falou sobre seu sonho de tocar tambor no Timbalada (mentira), Mombas, macacos, Einstein, 2012, Simpsons, várias outras coisas e tudo em dose tripla. Ele tem uma estranha mania de repetir todas as coisas que fala.
A noite foi breve, acabou mais rápido do que eu gostaria, ele é uma boa companhia. Pena que como ele é, vai ser difícil vê-lo novamente, mas bem, fica o meu apelo. Huihsauihsuiahsauis.

Ok, parei, só escrevi isso porque o Gustavo disse que eu ia chegar em casa e escrever no meu diário.
Mas é tudo bem sincero, até os elogios ao gordinho. :*


domingo, 8 de março de 2009

Um drink a sós.


Se você soubesse o quanto é ruim saber que às vezes nós não estamos um diante do outro. É, Bramalho, eu amo você, mas se você parasse de colocar a culpa em mim de tudo o que dá errado, seria tão mais fácil.
Não teríamos que viver tão separadamente, eu não teria que tomar esse suco sozinha e você não teria que ir sozinho para a fila do banco. Tudo por uma ação? Uma mudança de atitude que só faria de você alguém mais agradável?
Cansar não é normal, pode ser comum, mas está longe de ser normal. Ninguém cansa de quem ama, cansa de uma atitude, de uma brincadeira, cansa de algo repetitivo e que incomoda, mas não de quem se ama. Portanto eu esclareço que de você não vou cansar, mas temo chegar o dia que eu prefira não te ver, que eu prefira não ter que engolir a seco certas coisas.
Tudo sempre seco, como o chão e as flores que te entreguei, como o cuspe que nem sai, os olhos que mal piscam, como a vontade seca de sentar em um banco e cochichar sozinha para não correr o risco de receber reprovações de ninguém.
Não deveria ser tão complicado agir como um velho amigo meu, entender o que eu falo, apontar meus erros, críticas eu já tenho aos montes. Críticas que me chegam só para me fazer menor, mas não conseguem. Apontar erros é diferente, é mostrar que eu posso fazer melhor, que eu poderia ter me esforçado mais, que eu não precisaria ter feito isso e fui infantil ao fazer, ou desatenta, se fosse assim nada disso estaria acontecendo agora.
É, Bramalho, eu amo você, mas é ruim saber que quando eu precisar de um abraço que me afague não vou poder encontrar os seus braços, é ruim saber que por mais que eu precise sentir o cheiro de alguém que eu ame, não poderá ser o seu. Agradeço sempre por ter quem abraçar, mas eu ainda gostaria de poder te abraçar com carinho um dia. Sem repreensão, sem obrigações, apenas por querer abraçar e reforçar um elo que fico feliz por estar construindo mesmo depois de tantas especulações e mal entendidos.
Incrível como as coisas começam a chover na nossa cabeça e as gotinhas parecem punhais, e se você pega punhal por punhal, cada um poderia nem existir, mas por bobagem nossa eles chovem à noite inteira e fazem barulho na telha do quarto e a gente não consegue dormir, ou somente eu que perco o sono.
Agora eu tenho que beber meu drink a sós com a sua ausência, e você vai sozinho à Roma, ou sozinho a lugar nenhum, ou a lugar algum, e tudo isso poderia ser tão mais bonito e sadio.
É, Bramalho, eu amo você, e depois dessa vírgula nunca deveria haver um mas.

quarta-feira, 4 de março de 2009


"Eu podia ver nos seus olhos, que você honestamente acreditou que eu não te queria mais. O conceito mais absurdo, mais ridículo - como se houvesse alguma forma de eu existir sem precisar de você!"

terça-feira, 3 de março de 2009

"É muito fácil falar de coisas tão belas, de frente para o mar ou de costas para a favela."

domingo, 1 de março de 2009

Se me encontrar por aí, se me perder acolá


Se esbarrar comigo por aí, descontraída do mundo, despercebida da vida, descontente com o certo, o inseguro, o futuro que nem cabe mais nas mãos, pode me seguir se quiser. É claro que só se estiver muito afim de ir parar em lugar nenhum e sem nenhuma precaução.
Meu amor, eu só ainda não sei como te dizer que quando ama de verdade, não morre fácil, e se morrer. Amor não é paixão, não é sexo, não é vontade de comer comida japonesa, não é moda, não é mania, não é passatempo, não é dia, não é noite, é dia e noite, é gravidade em escassez, é medo de perder, é ir aonde quiser ir, chorar o quanto chorar e não deixar o amor escapar pelas lágrimas, nem pelo suor, nem pelas beiradas, nem por lugar algum porque ele não some com o vento, ele não vem e volta como uma estação do ano. Portanto quando reparar que te olho por mais de trinta segundos, é procurando um ponto errado na qual eu possa cair no mundo real e não querer mais colocar os pés nesse martírio, mas nem tem ponto, só traços, traços lindos que indicam a direção perfeita para o lugar mais bonito e distante, o lugar onde eu sempre quis muito ir e por medo do egoísmo, preferi ficar por aqui, não queria ir sozinha. E por muito egoísmo eu fiquei mesmo por aqui, por achar que o paraíso estava sempre no teu peito e que deveria ser só meu. Dancei.
Quando eu te olho e não vejo mais nada, também não estranhe muito não, isso acontece o tempo inteiro e na verdade nem eu mesma percebia. Certas coisas são difíceis, como engolir a seco uma ilusão. E eu engoli, derramei meu sangue em uma taça que eu mantinha guardada há bastante tempo e quando bebi ajudou a escorregar goela abaixo a ilusão safada e armada que descia machucando.
Entretanto, nessas ruas sem saída e nesses becos sem luz eu sei ir e voltar, não me perco no escuro, tenho sempre uma brecha ou um plano para escapar de qualquer lugar, mas desta vez eu não faço tanta questão, não eu não faço não. Nesse escuro eu ativei outros sentidos, ouço melhor, sinto melhor e bem melhor que isso, eu conheço os meus limites e sei bem onde devo pisar, mas há vezes que quero molhar meus pés e afundo mesmo o pé na lama, sem medo de gelar e nem deixar mais lambuzado do que o caminho que eu já percorri. É o abismo de uma alma inteira, mas claramente em pedaços, que não quer se espedaçar.
Não quer ficar bonita como uma boneca fingida e nem montada como um quebra-cabeças por medo, talvez, de ver finalmente que não era nada do que achava que fosse, por ter medo talvez de conseguir e não ter mais nenhuma outra meta. Mas sempre tem, sempre tem.
E eu já sei lidar com isso, aprendi nas últimas horas quando vi no seu olhar um medo irreverente e que não cessava em nenhum instante, eu só queria cuidar de você, um pouco mais, quem sabe? Mas você já tem quem cuide, apesar de todo o cuidado ser pouco, eu tenho medo de que algo em você saia do lugar como tudo aqui dentro se perdeu.
Se por acaso você andar por aí e tropeçar num pedaço de giz, desenha no chão e deixa por lá, ou me chama para decifrar o teu desenho, me chama para colocar pontos nos is e te ensinar a desenrolar uma desculpa qualquer e te tirar de qualquer saia justa, ou só me chama. Só inventa uma desculpa para me chamar e me encher de ternura por estar ao seu lado, inventa uma desculpa, uma bobagem qualquer para eu ficar ao teu lado por um tempo bem grande, mas quem me dera. Quem me dera que essas linhas tortas de repente ficassem lisinhas, lisinhas e retinhas como o horizonte que eu vejo toda manhã e fico tentando saber para onde me levaria caso eu fosse com ele.
Se me encontrar por aí com suspiros e um olhar cabisbaixo é porque ainda espero com portas abertas que você chegue de repente e entre, coma da minha comida, beba da minha bebida, fume do meu cigarro e me ame se puder, me queira se quiser, me tenha. Mas se não mais me encontrar por aí, seja lá quais forem as circunstâncias, eu provavelmente não mais serei. Não vou mais ser por não querer ser, por não dever ser, por não poder mais ser.
E se eu estiver acomodada em um banco qualquer, em uma praça fria, um cinema vazio, um auditório sem luz. Talvez fumando um velho cigarro, tomando um café já morno ou um milkshake já derretido, não ache que é reflexo de um coração já sem forças, é reflexo de uma jovem, mas já quase cansada.
Cansada de estar sempre sentada em um lugar qualquer e esperando alguém que tem a certeza incerta de que nunca vai chegar. Sou teimosa mesmo, espero.
E se quiser esperar comigo, pode puxar um banquinho e sentar, e se tiver um violão é bem mais agradável. Assim eu fico o resto da vida.
Vendo a incerteza da minha certeza a meu favor, você um dia finalmente chegou, sentou e ficou comigo.
Vá ilusão. Boa noite, Alegria.