domingo, 15 de março de 2009

Cada um no seu quadrado.


Eu acredito que se cada um cuidasse da sua vida o mundo todo seria mais interessante. Se cada um varresse a sua calçada, a cidade ficaria mais limpa. Se cada um se responsabilizasse pelo filho que tem, nas ruas teriam menos marginais. Se fechasse a torneira quando fosse escovar os dentes, as lágrimas não seriam os vestígios de água daqui a poucos anos. Se aprendessem a ver um casal gay caminhando na rua e não apontassem, geraria menos revolta, menos conflitos, menos comentários maldosos, custa tão caro assim olhar somente para o próprio nariz? Por que a vida das outras pessoas é sempre mais interessante?
E quando você resolve tentar combinar aquela saia laranja com aquela blusa verde-cor-de-vômito e aquela plataforma esplêndida que sua tia (que tem um péssimo gosto para cores tendentes) esqueceu no seu armário e sai desfilando pelas ruas da sua cidade pacata e acha que é a personificação da Gisele Büchen – Foda-se como escreve o nome da Tópi módeu - e alguém te aponta o indicador ou passa te olhando com o rabo do olho, como você se sente? Um estranho? Você está no mundo porque te convidaram para entrar – e ainda convidaram num instante que provavelmente era o auge bem... da felicidade do casal – e você ainda tem que passar por certos constrangimentos porque as pessoas depois de mais de dois mil anos ainda não aprenderam a lidar com as diferenças, você acha isso interessante? Suponho que não.
Suponho porque meu cabelo está pintado de vermelho e as pessoas não param de olhar, e umas garotas viram para o lado e cochicham, mas depois sem querer querendo uma ou outra vem conversar e diz que sempre quis fazer isso também, mas nunca teve coragem.
O que estou tentando relatar é que todas as pessoas já foram apontadas na rua, e todas já apontaram também, não adianta ser hipócrita quando quer dar uma de Dona da Razão.
Acontece que se for fazer uma parcial por escrito de quantas pessoas você não queria nem ouvir falar o nome por um tal de disse-me-disse, as árvores da Amazônia vão sumir mais depressa.
A roupa que você usa, a cor do meu cabelo, o instrumento que ela aprendeu a tocar não relata nada, o âmago do que ela sente é só dela. O físico não faz ninguém mais ou menos inteligente não, não faz ninguém melhor ou pior que os outros. Estão entendendo ou estou falando rápido demais?
Ora, porra, viu? As pessoas agora vão ter que sair pedindo autorização para serem o que querem ser e fazerem o que querem fazer? Inacreditável.
Estamos no século XXI e facilmente encontramos garotas aos doze anos vendendo o corpo por menos de vinte reais (Sim, eu disse Vinte), facilmente encontramos gente vivendo sem ter como viver, gente morando embaixo de ponte, garotas engravidando de deus e o mundo, pessoas matando por um Iphone, minha gente! (Nossa vida, diante das portas do mundo na qual vivemos, vale menos que um Iphone.) Facilmente encontramos policiais com o cu na mão enquanto as ruas se transformam em um verdadeiro cabaret, é inviável não compreender a idéia de que isso nunca vai acabar. Caminhando nesse ritmo e principalmente nessa direção, não vai mesmo.
O mundo está sendo destruído e as pessoas ainda se importam com a sexualidade do cara ao lado, ainda se propõe a julgar alguém por amar um outro alguém do mesmo sexo. O cu é vosso, façais o que quereis.(?) Hahaha.
É um absurdo, meu rapaz, é um absurdo. Ou relatando a filosofia da magnífica Sandy e do saudoso Junior, dig dig joy dig joy popoy.
Tem tanta gente que faz coisa pior às escondidas, então sai de debaixo dos panos, humilha um aqui, humilha outro acolá, ganha créditos dos otários que o acham a bola da vez, a rôla que matou o Cazuza e depois volta para baixo dos panos e tome, tome, tome. Igual, pior, mais dolorido, menos, não sei, não me interessa. Por que deveria interessar a mais alguém? E por que por baixo dos panos é tão mais fácil de aceitar? É por que não tem ninguém o olhando, eu acho. Ou talvez porque os dois estão na mesma situação e um não tem como julgar o outro e pelo menos assim cada um vai ter alguém para chantagear quando estiver à beira da loucura, em abstinência e dependendo de um carinho bobo para poder prosseguir. Ah, viagem maluca, esse povo não sabe mesmo o que faz.
E ainda há quem diga que certo foi Sócrates que se matou antes que o matassem, mas por favor, o velho morreu aos setenta, deu o que tinha que dar e no final ainda disse “Só sei que nada sei”, e foi mais feliz que muito filhodaputa que queria calar a voz dele. Ele calou sozinho, mas ainda hoje ecoa. Mas que se arrombe, o assunto não é ele.
Esse machismo não leva ninguém a lugar nenhum e também não é motivo de graça não, cada um paga a sua conta, cada um paga o seu IPTU em dia e a dívida com o Estado fica quitada, a dívida com a sociedade também, então para que se intrometer?
É simples, é cada um cuidar do próprio rabo para que ele não fique preso quando o vento bater a porta com força.Bem, que seja.

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