sábado, 22 de agosto de 2009

Um texto de Guilherme Vilaggio Del Russo:




Somos uns sinceros num mundo onde hoje isso deixou de ser uma qualidade. As pessoas normais nos cansam. O modismo está fora de moda assim como o amor. Nossa luta em convencer os outros pelas palavras parece tão vã e difícil. Somos eternos rebeldes e inconformados com a podridão do ser humano. Mesmo assim, a gente estica e estende a mão para o primeiro desconhecido na rua.
A gente é daquele tipo discreto, mas marcante. Do tipo que experimenta um ou dois cigarros, só para ver se ele se adapta ao nosso estilo. Somos filhos dos anos 70, cheia de revolucionários e ideais, vivendo na mesmice de um século XXI, sem tom.No nosso relógio, falta um minuto para tudo: tudo dá tempo, o tempo dá tudo. Estamos em plena campanha contra a vaidade. Vaidade de sentimentos. Somos um punhado geral de pessoas sem pudor de dizer eu te amo.
Resumindo, somos loucos pela vida, apaixonados pelo sorriso sincero, pelo sabor das palavras. Irmãos de all-star. Nos encontramos num trecho de nossas vidas e eu quero torná-lo para sempre. Diferentes,vibrantes e otimistas.
Nós, somos raros...



[Guilherme Vilaggio Del Russo ]

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Deita na cama desfeita.


Magoamos certa gente, sem sentir dó, sem sentir o cheiro do pó, é sem querer. A gente ama em tantos sentidos e tantas vezes é no que mais sentimos que faz doer, é nesse que faz a gente sofrer. A gente queima deprimente e faz os olhos dessa gente muito arder, faz escorrer uma gota de féu, reflexo do amargo que vem do céu e bate no peito já sem bater. Meu amor, meu amor, enquanto o mundo gira a gente fica sem ter muito o que fazer e quando a gente faz não é por querer magoar outrem. Meu amor, meu bebê, eu só vim para pedir para você não ir embora pois está chegando a hora de a gente crescer. Beber do cálice vazio e encher o coração sombrio com alguma coisa que pese o suficiente para não nos deixar cair. Está na hora de darmos as mãos e não deixar a compaixão fazer bagunça aqui por perto.
A gente tem que ser esperto para não deixar todo o deserto secar a vontade mais sublime de viver, a gente tem que ser sacana para não deixar toda essa grana mandar no mundo aqui de dentro, nem em mim e nem em você. A gente tem que ser pilantra para não deixar rasgar a garganta com um grito abafado que gente alguma vai ouvir.
Meu amor, meu amor, eu vim aqui para dizer que lhe encontrar onde não tem ninguém foi o melhor que me aconteceu. Que seu sorriso é tão bonito e maldito seja o dito que mente que escureceu. O seu sorriso não escureceu não, mocinho, não escureceu pois ainda me cega e é diante dele que eu mais quero enxergar. A gente tem que agarrar com força toda a fé, toda a minúcia para não desestruturar. Está tão longe dos olhos vis, da mulher, dos travestis que ficam em todo lugar. Ficam em todas as travessias, todas as mordomias, todos os sinais.
A gente cansa, mas a gente pede com calor e ninguém sede aquela boca que a gente já não beija mais. A gente cansa, mas a gente ama e para mim o resto tanto faz. Foi sem querer que eu falei que era tudo uma incerteza que na verdade nessa mesa ninguém aqui quer amar mais. Mas é tudo um amor só, preso inteiro por um nó que ninguém quer desatar nem tirar mais do lugar por ter medo que se espalhe nesse mundo desatento e perca a tempo o tormento que mantém essa porcaria viva. O tormento que mantém essa porcaria viva. Viva. Viva, meu amor, viva.

Essa porcaria ainda vive, meu amor, ainda vive e eu não quero te deixar de fora desse ritmo de afeição. Eu quero ver os meus dois sóis, enlaçar minhas pernas em seus lençóis e jurar amor eterno como nas lendas, nas mentirinhas que o povo conta. Não, mocinho, não vá agora não. O coração vai doer, a saudade vai bater e quem vai me ouvir? Não alimente o meu pelejo, não vire o sonho pelo avesso, não me perca tão de perto. E se eu não for mais voltar? E se eu não te deixar ir? E aí?

A gente briga com gente porque a gente tem mesmo é que falar, mas a gente esquece que essas palavras podem machucar. E machucam, meu bem, machucam e meus braços e pernas ainda doem de tentar contorcer a vontade de te prender de uma maneira ou de outra. Eu não tenho mais ninguém e o alguém que nem mais me mantém já anda com outra. Eu pedi para me deixar ir, pedi para me abraçar, me sorrir, me tocar e me soltar no mundo de novo, eu só queria te encontrar. E agora eu encontrei e eu sei que não lhe faço feliz como gostaria. Mas nem eu sei como fazer isso, senta de novo nessa cama, me deixa descobrir.
A gente briga o tempo inteiro, mas a gente se entende. A gente briga com uma gente que a gente nem sabe porque, nem nos dói. A gente briga entre a gente e é a noite pendente em uma ligação que nunca chega, em uma chegada que nunca é completa. O orgulho, meu amor, o orgulho joga a gente no fundo do poço e as paredes são lisas demais para escalarmos e sairmos. A gente só dá valor quando perde, já lhe ensinaram essa lição? A gente só dá valor quando perde. A gente mente, a gente sente, a gente finge que passou e de repente essa gente traz para a gente o que passado não apagou. E a gente senta na mesma mesa do mesmo bar, se desencontra nos versos de uma canção e outra e você tentando me interpretar e eu com medo de que você fuja e eu não te encontre em nenhum outro lugar.
Eu temo não te encontrar em nenhum outro lugar, portanto fique aí mesmo, canalha. Fique aí mesmo porque eu sei que estou errada, mas você é meu refúgio. Você sabe que eu estou errada então pára de querer que eu fuja de mim mesma. Fica aí mesmo, canalha. Fica aí porque aonde quer que você vá é em mim que você vai pensar. Não foi assim que você me falou? Que me amava e que não havia nada que te fizesse colher do chão o que restou? Daquele passado recente, daquele projeto de gente que você quase morreu de amor.
Eu sei que a gente grita em um silêncio de ensurdecer e eu aprendi a superar o frio que cai em mim no anoitecer, sempre que você não está. Sempre que você diz que vai chegar e nunca chega, sempre que você diz que vai deixar tudo ficar muito bem, e nunca fica.

Às vezes a gente pensa tanto na gente e esquece de pensar na gente com a gente, hoje eu levei minha dor para passear, meu amor. Levei porque só ela me acompanha. E o apoio moral? Só ela não me estranha. Hoje, meu bem, eu acordei mais cedo para tomar café no jardim, despetalar umas rosas e brincar de Bem-me-quer, Mal-me-quer, procurando sua resposta nas pétalas do chão. Não, não vai embora agora não, eu sei que já falei muito, mas é quase nada do que eu realmente tenho para te falar.
Não é do seu beijo libidinoso que eu preciso, eu não quero mais me submeter a esse seu amor mentiroso, lascivo. Eu não quero mais ter que ficar a mercê das suas dúvidas. Ou me prova um sentimento limpo, um companheirismo ou pode mesmo ir agora, sem nem pensar que eu vou te pedir para ficar. Eu não vou te pedir para voltar.

Isso, deita de mansinho, pára de achar que eu tenho que pagar pelos erros que você cometeu e digo mais, por aqui quem vai começar a ditar regras sou eu. Quando deita nesse travesseiro, o passado não tem vez. Os amores mal acabados não existem mais, eu quero meus pezinhos enrolados, minhas mãos atadas com as suas e calmaria. Não se preocupe, meu amor não acabado eu deixei dentro da primeira gaveta. Por hoje, ao menos por hoje, a partir de hoje, a gente fica em paz.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

MATANZA.



É HOJE!

Por favor, que nada me faça triste esta noite, que nada me decepcione esta noite, eu esperei tanto.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Convite sem recusa.


De repente tudo vai embora. Se esqueceu o ferro de passar ligado, não vai dar tempo de voltar. Se a pizza está no forno, só dá tempo de queimar. Se a Coca está muito quente, não dá tempo de gelar, se o cigarro está aceso, não dá tempo de fumar. Lançaram um disco novo e nem tem tempo de escutar, se arrumou mais de uma hora sem ter tempo de ir dançar. A prova ainda viva de que a vida e a morte estão tão próximas que nós nem imaginamos, a morte quando fixa o olhar em um de nós, não tem nada que o desvie. E os sinais? Quando você sabe que um moço que você conhece morreu, automaticamente vai voltando a fita no seu subconsciente. A última vez que falou com ele, que falou sobre ele, que pensou nele, que tocou na mão dele. A última vez que lhe pediu o isqueiro emprestado, que pediu licença para passar, que pediu para abrir a porta. Essa semana eu estava andando na rua e pensei “Eita, o Ricardinho, vou lá falar com ele.” Cheguei perto, nem era. Foi no dia seguinte, meu bem, no dia seguinte que me ligaram para dizer que Ricardinho havia morrido, o carro estava detonado.
E dizem que foi um acidente. Acidente? Acidente é topar o pé em uma pedra esquecida no caminho, é derramar café no trabalho da faculdade, acidente é cortar o dedo abrindo uma lata de sardinha, quebrar um copo na cozinha, chegar mais tarde sem avisar, quebrar a ponta de um lápis, escorregar quando a doméstica está passando pano, prender o dedo na porta do carro, tropeçar no pé alheio. Não quando um carro vira lata velha e um homem vira carne morta. Foi uma tragédia, uma catástrofe, matou alguém.
E quando é recente, você passa a ter medo e viajar nas lembranças. Tem medo de não dar tempo de dizer que ama com todo o coração, de não dar tempo de terminar o curso, de fazer o suco, de ligar para dizer que sente saudades, de desejar parabéns. Medo de não ter tempo de pular daquela ponte nas águas geladinhas daquele rio e levantar gritando “vem, vem!”. Tem medo de não ter mais tempo. Seja tempo o suficiente para decidir para onde vai, para decidir se prefere a camisa azul ou a preta, medo de não conseguir contar a verdade, de não entregar o que prometeu, de não ir ao show da banda que mais gosta. Eu tenho medo de não conseguir ficar em dois lugares ao mesmo tempo e segurar a mão Dele, como quem segura a mão de um príncipe.
E as lembranças? Bem, a respeito de Ricardinho são poucas. Fim de semana na praia dele, na casa de um amigo em comum. Ficávamos no quarto conversando, eu, ele e uns amigos em comum, inclusive o dono da casa em comum.
Ia andar pela praia, na areia fina do Francês, “Ricardinho, rapaz!”, e ele mal sorria, era sério.
Ele sabia onde vendia flau de maçã, é verdade, lembrei disso agora, ele sabia onde vendia flau de maçã.
Eu moro em um estado pequeno e em uma cidade que é muito menor do que deveria ser, conheço N por cento da população e o tempo inteiro morre XYZ por cento dessa população, mas eu quase nunca conheço um deles. E fico grata, são pessoas que não fazem mal a ninguém. Ainda acho que não deveria. Ele nunca matou ninguém seja lá por qual motivo for, nunca assaltou ninguém para alimentar um vício e nem para outros fins. A vida seria muito mais cômica se não fosse tão trágica. E é diante de situações complexas como essas que eu tenho a plena consciência de que deve provar de tudo na vida, aproveitar enquanto se pode sorrir. Quem quiser cheirar pó, que cheire. Quem quiser tomar doce, que tome. O amanhã pode ser interrompido em uma colisão com um fim deplorável. E quando o fim estiver lhe puxando pelo braço, ele não vai te esperar abotoar a calça, nem te esperar terminar de jantar, nem colocar mais açúcar, ou retirar o pimentão da salada. Não vai esperar nada, você vai como estiver, fazendo o que estiver fazendo. A morte não lhe tem piedade.