quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Chaves? Quais chaves?


Perco as chaves, perco os documentos, perco o domínio, perco a mim mesma no buraco negro dentro de mim e eu nunca mais me encontro, ninguém nunca mais me acha.E vez ou outra, evito ficar só para não ter que ouvir tudo o que grita aqui dentro, evito ficar só para não me ouvir chamando, para não me encontrar.


Enquanto isso em outras vezes, eu fico só para pensar no que eu poderia ser. O vento, o sol, a lua, uma nuvem negra pronta para chover, eu queria ser um pássaro, uma estrela, o escuro, o silêncio, eu meio que só queria ser. Aparecer e depois sumir, mas ainda assim em um instante qualquer ter que aparecer e nesse momento fazer alguma diferença.


Onde será que ele está? Por que não chega? E se chegar o que direi? Para onde vou olhar? O faço sorrir ou deixo meu senso de humor raro para depois? E se ele nem se importar? Que roupa usar? E sapatos? E meias? Descalça, eu vou descalça. Vou ficar descalça para sentir até quando meus pés são capazes de tocar o chão.Por que não atende ao telefone? Não pode? Não deve? Não quer? Será que vai demorar muito? Pouco? Onde? Aonde? Parado ou andando? Com a camisa do Bob Marley ou a dos Simpsons? A do Bob. O que dizer? E se ele não chegar? E se sim... Não digo nada. (Deveria?) E se eu falar e ele não entender? Errar? Falhar? E se eu ficar risonha de repente? Ele não vai entender também. Presilha no cabelo? Preso? Solto? O perfume! Qual perfume eu devo usar? O mais forte ou o mais cheiroso? Um short qualquer, uma blusa normal, pés no chão, uma maquiagem qualquer, o cabelo do jeito que estiver e minhas chaves? Onde foram parar? E minha identidade? Ah, minha identidade. Eu nem sei onde estou e nem quem sou, eu vou me procurar.


Vou esperar sentada, cansa menos. Ele sempre demora muito, tem essa estranha mania de acreditar que o mundo inteiro está a sua espera, vã ilusão. Eu devo ser a única que ainda o espera mesmo cansada de sempre esperar.Que silêncio, que silêncio. Eu lembrei que assim eu me ouço e é vergonhoso, mas eu nunca tenho muita coisa bonita para dizer. Eu nunca tenho nada muito bonito para dizer.Eu pensei que eu pudesse ser mais interessante e ter umas qualidades mais comuns, mas agora eu acredito que não. Talvez seja por isso ele ainda diga que venha me ver, mesmo que para isso demore horas.


Chegou.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Ina


Hoje eu olhei para o lado e ela estava lá sorrindo aos quatro ventos, piscando os mesmos olhos tristes. Ela piscava os mesmos olhos tristes que eu conheci no dia 2 de março de 2009, naquela sala fechada com um ar-condicionado filho de uma puta que arrepiava até os cabelos do ... ouvido. Eu queria poder fazer alguma coisa por ela, abrir a porta da minha casa vazia e dizer “Venha, traga a sua filha e morem aqui, vou lá embaixo buscar um emprego para você e te trago rapidinho.”

O casamento dela é um inferno e ela deve chorar todos os dias se perguntando por qual janela fugiu o homem que ela havia conhecido. Conhecendo-a como tive a oportunidade de conhecer, eu sei o quanto ela está sofrendo, eu sei o quando ela está cansada de calçar a sapatilha só para pisar no orgulho, pois sem ela a sola do pé se queima. Algumas mulheres do mundo deveriam conhecê-la, mesmo que no dia seguinte não se falassem e por todo o resto da vida não trocassem mais uma só palavra, iam entender que as pessoas têm que escolher direitinho a pessoa com quem vão casar, tem que amar direitinho quem vale algo e se amar quem não vale, que não se perca nesse amor, pois se por acaso se perder, nunca mais vai se encontrar.


Casamentos com tanto dinheiro e nem um pingo de carinho, tomem no cu malditos hipócritas, tomem no cu. Odeio pessoas mesquinhas, vazias, ríspidas. Desculpa Ina, mas ríspida além de soar bonito, soa de um jeito que não sai mais da cabeça, um jeito amargo - como ele. É o pai da sua filha, o homem da sua casa, o cara que paga a sua faculdade e as prestações do seu carro e faz questão de lembrar todos os dias, tudo porque você simplesmente não pode pagar sozinha, você não tem como pagar sozinha. É esse o homem que para mim continua sem valer nada, continua sendo um garoto mimado movido a dinheiro, movido a cobiça, a interesses sem gosto, movido a coisas supérfluas. Desculpa Ina, eu gostaria de te dar uma boa notícia, mas você sabe, no mundo em que eu vivo a boa notícia é que ainda estou viva.


sábado, 6 de fevereiro de 2010


Era dia 10 de janeiro de 2010, 06:30 da manhã – eu disse 06:30! Acordei às 05:00 – agora eu disse 05:00 – para partir para Buenos Aires para fazer uma prova do concurso da CEAL (Companhia Energética de Alagoas). Buenos Aires em Alagoas? Gato, me mandaram para um bairro chamado Clima Bom.
Miss Mag e Pessoa foram levar Chico e eu, cada um em seu respectivo colégio de resolução da prova, mas é claro que o dia tinha que continuar dando errado. Como se não bastasse acordar às 05:00 para fazer uma prova filha da puta na casa do caralho, o Chico tinha que esquecer de ser responsável, o rapazinho esqueceu a caneta. Como alguém vai fazer uma prova de concurso e esquece de levar a caneta? É claro que isso não me foi nada romântico e nem bonito e a vontade que me ferveu os nervos foi de jogá-lo escada abaixo, mas não tinha escada, tinha lama. Ignorei a falta de caneta e lhe desejei boa sorte, afinal que se há de fazer? Seguimos a procura do colégio que não me esperava, mas que eu precisava ir, chamado simplesmente de Colégio Estadual Professora Maria da Salete Gusmão de Araújo.
O acesso até esse tal colégio era difícil, repleto de lama, buracos, urubus e pessoas agachadas entre lama, buracos e urubus. Acendendo uma pequena fogueira no meio do lixo e do barro molhado para fazer o café da manhã que provavelmente chegaria no bico de uma das aves negras.
Contudo, nada sentida, apenas com sono e pouco disposta chegamos finalmente ao colégio da Senhora Gusmão. Entrei às 6:30 para uma prova marcada às 8:00. Sim, uma hora e meia de antecedência, sabe por que? Porque simplesmente não indicaram se a prova iria acontecer no horário local ou no horário de Brasília, esta que estava em horário de verão. Haha, que maravilha.
Miss Mag e Pessoa tinham pressa pois as 08:00 seria o sepultamento da mãe do Pessoa. Deve ser difícil enterrar a própria mãe e por essa experiência eu não quero passar nunca, nunca. Bem, entrei na sala e uma moça me chegou estendendo a mão.
- Você é a Juciana?
- Sim, sou eu.
- Prazer, sou outra Juciana.
Hahaha! Quem diria que outra mãe teria tamanho mau gosto. – Portanto se alguém ver alguma Juciana aprovada naquele concurso, não se iludam, não fui eu. Enfim, faltavam 55 minutos para o início da maldita prova, não tinha nada para fazer e resolvi escrever na traseira do papel de comprovante de inscrição que exigiram e nem sequer pediram. As cadeiras faziam barulho demais e as pessoas pareciam que gostavam, não paravam de arrastar as malditas cadeiras barulhentas. Nas paredes e na moldura do quadro tinha rabiscos como “Mancha Azul “ “Comando Vermelho”. Das oito lâmpadas, quatro funcionavam.
“Mané!” “Ass.: Minhoca” “Gay” “Claudeane ama Jesus” “Início às 08:00 Término às 12:00”.
A sala tinha um péssimo estado e o quadro negro não era negro há bastante tempo. Este com cerca de 4 m de largura e apenas 2 eram próprios para uso, a outra metade estava toda destruída. Não tinha ventilador. Não é que não funcionassem ou que estivessem racionando energia, simplesmente não tinha ventilador na sala de aula. A sorte foi ter pego um dia nublado, o sol não invadia a sala pelas janelas que eram obrigadas a ficarem abertas porque senão todos morreriam sem ar. Maldito governo, maldita miséria.