segunda-feira, 29 de julho de 2013

Tanto a se dizer, mas se falta... tempo.

   Pensei em várias formas de mostrar que o estereótipo estipulado pela sociedade não passava de um nome qualquer. Que a classe social que a própria s o c i e d a d e estipulou como baixa, média ou alta, suprindo a necessidade da mudança, mas substituindo, na grande verdade, o reinado que sempre assolou essa porra toda, na grande verdade (novamente), nua e crua, é que não faz a menor diferença e não me, não ME interessa nem um pouco. Nem um pouco.

   Pensei também em maneiras de mostrar que muitas vezes toda essa capa de proteção construída pela vida, de indelicadeza, pouca paciência e pulso firme, muitas vezes está ali só para fazer o seu papel, só e somente só para proteger o que veio sendo fragilizado e torturado a cada dia que se passou, a cada decepção que colocou o pé para eu cair e eu me segurei pelas paredes, mas não me deixei beijar o chão.

   Pensei em diversas maneiras de mostrar que a periferia também é classe social, assim como a burguesia cantada pelos automóveis modernos e as drogas caras. Mas que isso, falando de uma forma muito humana, não dita a personalidade e o caráter de cada um que ali habita. Em qualquer um dos territórios, dos pedaços de chão que seguram o riso do opressor e o sangue do oprimido.

   Pensei em contar sobre o passado prejulgado como berço de ouro, mas que na verdade dormiu no chão de terra batida. Pensei em contar sobre a piscina bonita que sempre fora uma bacia pequena demais para o sonho que se tinha. Pensei em contar sobre a avenida movimentada, conhecida, perto de tudo, que por muitos anos não passava de uma rua de barro que não passava ônibus e que em tempos de chuva o saneamento era pouco. Até pensei. Pensei em contar que a base é feita da criação. Que nada disso faz parte do reinado que fora dito pela boca bonita que encanta ao rimar, que nada disso faz parte do monopólio monetário que encobre tudo isso, tudo aquilo, todos nós. Que isso foi fruto do esforço, do armazém, do calor, do estudo, da força, da garra, da guerra.

   Pensei em contar que a periferia é definida como tudo aquilo que está ao redor, e que eu não vim dos lados, eu vim do fundo, do baixo, do poço sujo de lama sem água para beber. Contar que o coração ainda é uma boa arma apontada para a violência, que dar a mão não salva o mundo, mas salva alguém. Contar que rótulos e prejulgamentos são ladrões de oportunidades únicas e que eu não vim até aqui para deixar alguém chegar e tomar o que é meu. E que se você abre mão do racional, abre mão do risco, do tentar esta vez, eu sinto muito por você. A vida é um desafio, não é? Sozinho também se ganha.

   Pensei em contar que de todos os seus defeitos o maior deles é ver você se tornar quem nunca quis ser e quem não deveria, não poderia. Alguém que reprime o outro sem nem saber quem ele é, sua essência, sua ideologia, seu caráter. Gerar uma definição baseada no que se vê a olho nu, você nem estava lá quando toda a nudez que os olhos nus enxergam ainda era vestida e fora despida pelos desesperos da vida.

   Pensei em contar sobre muitos, sobre poucos, sobre outros, sobre tantos, pensei em te contar sobre quem somos e quem poderemos ser, mas é melhor não. Mentes fechadas não suportam minhas histórias longas  e cansativas. Fechadas a ponto de não aceitarem que o preconceito ainda vem de dentro de cada um, e que nesta situação, vem tanto de você que você não enxerga. Sabe por que? Porque é muito mais fácil observar o outro, que está bem ali na sua frente e esquece dia-a-dia de fazer seu próprio julgamento a respeito de si mesmo.

   Pensei em te contar sobre a cretinice da vida. Da minha, da sua, dos outros, mas me encantei tanto com seu perfume no meu casaco que preferi esperar uma outra oportunidade, que eu sei que não irá surgir.

   Vacilão.