quarta-feira, 28 de abril de 2010

Você segue, mocinha.



Querer correr para um lado e acabou por ver que não há mais um lado com um lugar seguro para ir, querer abrigo e não ter mais braços para tal, nem para abraçar e nem para envolver, ou pendurar um quadro ou lhe ser útil de alguma maneira, de qualquer maneira. Procurar acreditando que tem e perceber que não tem quem sempre pensou que teria, e temer nunca ter. Como todas as vezes você está sozinha, procurando o que lhe prometeram há anos e fingindo que não viu tudo indo por água abaixo. Procurando o que ninguém escondeu, afinal nunca houve, nunca existiu, tudo não passou de uma farsa.
E você segue, mocinha, você segue fingindo que não se importa, e até tentar fingir que muito suporta e espera tudo se pôr em seu devido lugar. Mas é uma linda utopia, tudo não passa de uma magnífica e tão amarga utopia. Não adianta mais sair fingindo para os sentimentos que estão sempre dentro de você, aqueles que ninguém tem o poder de arrancar com as unhas e cozer para o jantar. Aqueles que nunca irão lhe deixar calar, aqueles que nem sequer se calam, aqueles que apenas lembram. Lembram quem você é, quem você sempre foi e quem você nunca será.
E sua vergonha vai causando dor na região periumbilical e atravessando a sua carne e imobilizando seus membros inferiores. - A puta... a enfermeira frustrada ... a metida a técnica de enfermagem diz “ procura um médico, deve ser apendicite” - . Porra de apendicite! Simplesmente não tem mais onde doer, o coração de repente ficou pequeno demais e o fígado tem aquele poder de cicatrizar. - Hahaha O fígado tem o poder de cicatrizar, quisera eu que fosse o coração! – E o coração além de fraco é surdo, e aquelas vozes vão entrando nos ouvidos, atravessando os tímpanos e se perdendo no labirinto que nem é tão grande assim. E quando chega aí, meu bem, quando chega aí é só juntar as palmas e rezar como uma criança com medo. Essas vozes se perdem e não podem mais sair e quando finalmente se encontram, estão alojadas em um músculo, como uma bala de um tiro muito mal dado que alguns olham assustados e dizem “vai ficar tudo bem, não se preocupe, vai ficar tudo bem” e não dizem que não sabem o que fazer, pois se tirarem a maldita bala tiram-lhe também o movimento das pernas.
Hahaha, as pernas que te levam de um lado a outro e nunca te tiram do lugar. Que cansam de tanto te levar de um lugar a outro e no final não te levam a lugar nenhum.
Quisera eu ser um pássaro, em situações como essas levantaria vôo e partiria no meio do mundo sem ter chances de voltar. Mas como na verdade nada sou, que eu ganhe forças para suportar esse peso, essa vida que mal quer me levar.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Bra.ma.lho


Bramalho. Bra-ma-lho. Eu gosto de te chamar assim, eu gosto de repetir seu nome. B r a m a l h o .
Estou sentindo uma necessidade de você. Eu pensei em chamar de saudade, mas saudade seria muito pouco, necessidade soaria mais suave, um pouco mais suave, ou talvez mais dolorido, ou talvez... ou talvez mais... apenas mais.
Anéis de parafusos, milshake das cinco, abraços que pareciam nem mais ter fim, como essa saudade, essa saudade tão intensa que merece outro nome.
Carona de uma esquina a outra, lanchonetes, risinhos safados, mentiras safadas e verdades depois. Coca com gelo, com muito gelo, por favor.


Onde você deve estar agora? Qual camisa deve estar usando? Será que está com aquele mesmo boné? Aquele bonito que te deixa tão mais jovem. Haha, sua idade, desculpa, eu tinha mesmo que lembrar. Você sabe, velhos tempos não são feitos apenas de coisas boas, existem os desconfortos, tristezas e timidez. Eu engordei, eu sei! Também sabia que você sabia e ia fazer questão de me lembrar, vamos tomar sorvete? E peça o seu com duas bolas para não querer tomar do meu. Haha. A gente nunca muda, ou a gente nunca deveria mudar.
Eu comprei livros, gastei todo o meu dinheiro comprando livros. Era o que você mais queria que eu fizesse, lembra? “Pára de gastar com boate e compra livros, compra algo que lhe ensine alguma coisa.” Agora é disso que estou me alimentando! Minto, não só de livros, mas também de Dexter.
Todas as tardes eu assisto um pouco, leio um pouco, canso um pouco e vou te procurar no teto do meu quaro, ou no mínimo vou te esperar arrumada achando que você vem me buscar. Eu me mudei, lembra disso? Você já sabe onde eu moro, o número do apartamento, por que não vem me ver? Não lhe faço sentir saudade? Não sente falta das minhas manias e nem das minhas bobagens? Eu sinto falta o tempo inteiro de você, do que lhe faz sorrir, do que lhe faz olhar estranho, falar qualquer coisa, pensar qualquer coisa. As coisas poderiam ser muito mais fáceis se não houvesse sentimentos, muito mais fáceis, mas não seriam nada bonitas e nem faria nenhum sentido zelar por elas. Por isso que eu imaginava um mundo lindo quando estava contigo, por isso que sempre que nós saíamos aparecia um arco-íris no céu, borboletas posando no capô do carro, beija-flor beijando as janelas. Smack!

Poderia ser um samba à noite, uma mesinha, a tal coca-cola com muito gelo, uma comida limpinha e qualquer. Poderia ser o hall de um prédio, escuro, sem poltronas e nem almofadas, apenas uns banquinhos onde pudéssemos encostar as costas e quando desse aquela preguicinha da madrugada, deitar e esquecer um pouco a hora de voltar para casa. Ah, e algo para comer! Ou um estacionamento qualquer, um supermercado qualquer, uma desculpa qualquer e estava tudo correndo perfeitamente bem. Contando que estivéssemos juntos de uma maneira qualquer.

O mundo está nas últimas, meu amor, acho que não vou conseguir realizar todos aqueles sonhos que te contei, mal sei se será possível outro carnaval como o nosso. Eu sei que estou longe, mas estou em uma distância que você ainda pode me alcançar e se você me chamar, eu ouço. Na verdade, ouvirei em qualquer lugar do mundo, sua voz está grudada em mim, sua vontade está grudada em mim e seu desejo é meu desejo, sua vontade é meu dever.
Eu não quero mais sumir de ti, nunca mais. Quero chegar logo por ter pressa, lhe abraçar por ter frio, lhe sorrir por querer o seu de volta e respirar tão profundamente como antigamente. Respirar como quem sabe que a vida está dando certo e que por mais que o mundo se dê um nó e machuque e sufoque todas as coisas e pessoas, eu sei que vou ficar bem por saber que posso segurar sua mão.
E também sei que neste instante sou puro fruto da tristeza, puro fruto de uma árvore que nunca morre e nunca pára de crescer, e sei ainda que hoje não vamos nos ver e talvez amanhã também não, mas o que importa é que ainda lhe tenho em algum lugar dentro de mim, em algum dentro de ti.

- Eu venho já, vou ver o final do Dexter.
- Você nunca volta. – disse.

Eu sempre volto, meu amigo, meu amor, meu anjinho. Eu sempre volto, mas eu volto em silêncio e você que nunca vê. E você de repente sai e aí eu de repente saio e nós nos de repente nos perdemos outra vez. E de repente nos encontramos e de repente nos falamos e de repente não mais. E eu penso como sinto sua falta e você deve pensar “será que ela me amava como dizia?” e eu digo que sim, eu sempre direi que sim.