quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Aproxime-se, sente.

E na verdade eu só gostaria de saber de que horas você vai voltar para casa porque eu não agüento mais essa encenação, essa cara de lesada fingindo que está sempre tudo bem, sempre tudo ótimo, mesmo sem você aqui.
Eu gostaria sim de passar meus dias sem você, só para saber como seria ficar sem você por dois dias ou três, queria passar tão bem como passo numa noite de Natal, como passo um feriado bem aproveitado, mas é impossível. Sem você, meus dias simplesmente não passam. Ficam presos naquele instante até que você volte.
Esquisito, não é mesmo?
Esquisito como de repente eu sinto tanta falta de alguém que há muito tempo não é meu e que se eu for olhar minuciosamente, nunca foi. Eu, você, todos nós.
Eu não sei para que tantos esteriótipos, não sei para que serve toda essa tecnologia avançada e todo esse português correto, se do lado avesso é tudo uma bagunça só, nada funciona, nada liga e desliga na tomada.
E se eu pudesse, não lhe desligaria nunca.
Pois, eis aqui então, debaixo desse teto sem fim, sob esse chão sem direção, uma garota que só quer alguém que a ponha guardada no coração, sem toque de recolher, sem dividir espaço com muita gente. Conforto, ternura e paz.
Não é tão difícil assim, mas é que, você sabe. Já passei daquela fase onde garotos duram uma noite e só, já passei daquela fase onde ele só me é importante se tiver um carro ou um rosto bonito. Para ser bem sincera, nesta fase eu não fiquei. Estacionei no último século e não estou nem um pouco afim de sair de lá.
Algumas pessoas mudam, outras permanecem onde estão e outras pessoas simplesmente não se mesclam. Eu lhe conheço por pedaços, conhecer alguém por inteiro é complicado. Mas os pedaços que arrisquei conhecer, me encantaram. Então deixa ficar como está, deixa o amanhã resolver os problemas do hoje, deixa as águas do rio mudarem e mudarem e mudarem, até não parar mais. Neste ritmo a gente dá um jeito.
Eu só não quero mais me doer por você, não quero mais lhe ver e querer lhe ter. Não quero mais esse vazio fajuto e sem sal que fica no meu estômago tirando o meu apetite, eu só quero você. E quero que venha com todas as suas manias e todas as suas brincadeiras e todos os seus defeitos e efeitos, tudo faz de você um pedaço grande de carisma que eu quero ter para mim para sempre. Quero lhe desejar como o sádico deseja a dor, como o depravado deseja o amor e lhe desejar como o campo deseja as flores. Só não quero lhe desejar como o sol deseja a lua, eles nunca se terão.
E será que já não está na hora de você voltar para casa? Correr para a janela para ver o nascer do sol e fazer guerra de travesseiros como duas crianças travessas?
Incrível, incrível como eu não canso de esperar a sua companhia, como não canso de esperar o seu cheiro.
Não canso da cadeira vazia esperando você chegar, do café que esfria esperando você tomar, da música repetindo milhões de vezes esperando você cantar.
Venha, chegue mais perto. Faça o favor de se sentar e alimentar o que me corrói, a saudade.
Só sei que nunca estou só por ter você nos pensamentos, o tempo inteiro, sem restrição.
Sei que minha cadeira está sempre preenchida pela sua ausência e meu coração está sempre sendo alimentado pela minha solidão, pela sua falta, pelo seu desprezo que não me despreza, mas que faz com que você cegue e não me enxergue em nenhum ou em qualquer lugar.
Você me atordoa, me entorpece, coração. Você me tira do sério e depois me deixa sozinha tentando colocar o sério no lugar. Conduzindo a solidão para um lugar qualquer, onde não haja luz, onde não haja mais caminho riscado no chão, para não mais me encontrar.
Você me tira de órbita, me pega, me dobra, me coloca no bolso e depois me joga fora como um cigarro fumado, pré-fumado, mais desprezível.
E eu que só queria saber se você vai voltar, agora quero saber se você vai ficar.
Mas não tem problema não, eu supero tudo isso também. Agora só me falta sabe o que fazer com essa tristeza assanhada que me toma conta do juízo, do meu prejuízo.







P.S.: Créditos da foto para Jeh Assunção, roubei do fotolog dela. (L)

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