domingo, 18 de janeiro de 2009

O dia em que a nostalgia falou mais alto

Talvez um dia quando todos usarem roupas prateadas, cabelos encharcados de gel e uma expressão facial assustada, você resolva valorizar o tempo que deixou para trás.
Usarão sapatos com plataforma e até passarão a se locomover através de naves espaciais, deixando carros, motos e helicópteros para tempos atrás, você vai sentar-se para datilografar uma carta. Com as mãos já velhas e cansadas que você terá.
Só para relembrar os velhos tempos.
Como trilha sonora, apenas Ludwing Van Bethoven, aquele que nunca fica velho demais e qualquer tempo é tempo, e - é claro - o barulho da máquina de escrever aos pedaços.
E quando a primeira lágrima escorrer, dos olhos tristes e mal amados, você se pergunte:
- Por onde deve andar aquela garota que gostava de chorar?
Neste instante suas lembranças virão à tona, e antes mesmo da segunda lágrima escorrer do alto dos olhos até o canto da boca, salgando as doces palavras que você nem se dá o trabalho de dizer, você certamente estará com a mão na cabeça se perguntando:
- E agora, onde está aquele tal garoto tão esperto?
Seu coração já está aos trapos. Caindo pelos lados e se misturando com os pedaços da máquina de escrever que já não suporta mais tanta hipocrisia ao longo dos anos. Batendo sempre na mesma tecla.
E cada verso do poema no papel em forma de carta, retrata a sua vida pacata... Intacta.
Então você vê a mancha preta da tinta escorrendo, destruindo os versos que te trazem as lembranças que você sempre temeu, de lágrimas escuras dos olhos mais claros, como a mancha preta que você via destruir seus sonhos quando era criança.
E você chora.
Chora como uma criança com fome, com frio, ou melhor que isso! Chora como a garota que gostava de chorar.
E você inventa, aumenta, complementa, mas nada dá certo. Não há nada que você possa fazer, não há verso que você altere ou elimine da folha em branco que faça o seu poema ficar mais alegre, mais real e com menos dor no intervalo entre uma linha e outra, você será sempre o velho ranzinza, sozinho, diante de uma máquina e tentando manipulá-la para participar do seu sonho dogmático, mas acorde.
Não adianta fingir, você finalmente percebeu que ninguém repara em você e que estão todos sempre distraídos demais com coisas banais e nem se importam com a sua aflição. É triste, mas é verdade. E foi você quem construiu assim. Pois um dia, há muito tempo, alguém se importou contigo. Naquela época na qual você era o tal garoto tão esperto, e acabou por nem perceber que a garota talvez não gostasse de chorar, talvez ela gostasse de você.







Nenhum comentário: