segunda-feira, 23 de junho de 2008

Sempre quis ser Kurt Cobain.


Otávio Tristan Cobain, digamos que ele gostaria de se chamar assim, era um discípulo do ídolo do rock grunge Kurt Donald Cobain, 24, vocalista e guitarrista da banda Nirvana, que segundo a mídia se suicidou em 1992, segundo eu, foi assassinado friamente pela esposa Courtney Love, na época aos 26 anos.
Mas ele era apenas um Otávio Galvão Correia, um adolescente que tinha 16 anos, uma namoradinha rebelde de escola que não ligava para ele para dar boa noite, e uma bicicleta Caloi toda arranhada e com o pneu traseiro baixo.
Mas acontece que a namoradinha rebelde resolveu seguir outro rumo da vida, com outros planos. Ele não estava em nenhum desses planos, e então começou o drama psicótico do menino.
Mesmo aos 16, mal tinha saído daquela vida de debutante, acreditava que Lisa era a sua cara metade, acreditava que era com ela que ele dividiria a mesma cama pelo resto da vida. A mesma varanda, o mesmo banheiro e seria amor eterno. Por favor, garçom, me vê uma dose de paciência, sim? Obrigada.
Ele foi capa do jornal da cidade, e ainda usaram uma foto muito desfocada.
Na reportagem dizia que ele havia se enforcado com a 6ª corda da guitarra, provavelmente queria "morrer jovem e permanecer belo" como em um de seus shows o belo Kurt disse que faria. Otávio nunca tomaria o lugar de Kurt, ele foi o líder dos All Star's sujos, roupas imundas e blusões listrados. Isso pode não parecer muito apresentável, mas junto disso tudo veio um estilo musical que até hoje invade os quartos dos adolescentes e seus respectivos MP4 Player.
E Otávio?
Bem, ele estava cursando o 1º ano do Ensino Médio pela segunda vez e tocava guitarra quando não estava alimentando o vício naquele play station 2, ele tocava muito mal, por sinal.
Por que mente de adolescente é tantas vezes tão pequena?
Pequena, mas produz umas imaginações e paranóias que só sendo adolescente para saber. E foram essas loucuras internas, esses dramas pessoais e inevitáveis para alguns, que deixou Otávio por um fio, literalmente.
Foi encontrado no quarto. Quando abriram a porta, parecia que tinha passado um furacão. Sua cabeça já roxa pelo tempo que estava ali pendurado, suas mãos com manchas de sangue já talhado, cheiro estranho. Era um cheiro de dor, eu sei mais ou menos como é esse cheiro porque meu quarto tem um cheiro bem parecido.
Som alto, fotos dele e de Lisa espalhadas pelo chão, alguns discos e cds do Iggy Pop, Nirvana e Aerosmith e umas bitucas de cigarro enfeitando o criado mudo todo decorado também com pequenas manchas em um tom mais escuro, provocados pelas pontas dos cigarros quando ainda estavam acesos, porque o mocinho tinha deixado o cinzeiro cair e se espatifar no chão.
Falando nisso, tinha vidro para todos os lados e a palma de cada uma de suas mãos estava riscada e o sangue deve ter escapado de cada cortezinho daquele, como deve ter doído.
Pela mentalidade pequena e momentânea, ele provavelmente tinha em mente cortar os pulsos e testou na mão para sentir a intensidade, viu que fraquejaria na hora e preferiu usar a corda da Gibson novinha que havia ganho de Natal. Estúpido, uma guitarra daquelas custa mais que meu salário.
E o cinzeiro seria bem mais útil se ainda estivesse inteiro. E o Kurt ainda é o mesmo ídolo do início, e Otávio é só mais um adolescente idiota.
Se matou por uma dose de placebo, aquele amor que ele só achava que tinha, nem sequer sentia. Se matou por achar que assim atingiria a tal Lisa, que nessa hora já estava transando com qualquer outro adolesccente que prometesse lhe pagar uma cerveja.
Deixou seus pais num desespero de dar dó, filho mais velho, que sempre teve conforto, boa escola e atenção dos pais.
Deixou o time de futebol sem goleiro, a banda de garagem sem guitarrista, a sala sem orador, o teatro sem Romeu, a história sem plebeu, a mãe sem o filhinho que lhe trazia troféis de vencedor em concurso de poesia, deixou o pai sem o "garotão do papai". A irmã sem protetor da escola, deixou o irmão sem o "meu irmão é um herói!". Deixou a vizinha sem ter quem paquerar, deixou o filme ligado na sala de estar. Faltou no cinema como havia combinado com uns amigos de infância que há tempos marcavam de se reencontrar, deixou o MSN ligado e não passou aquela música "irada" que tinha prometido enviar para o Gustavo. Deixou a aula de karatê, o jantar preferido sobre a mesa e o sorvete de baunilha com cobertura de chocolate já derretia sobre a pia.
Deixou as boas piadas que só ele sabia fazer, e deixou os carros sem as melhores manobras que um rapaz podia fazer aos seus 16 anos.
Deixou a tia coruja que sempre dizia "Como você cresceu", o avô que sempre perguntava "Já perdeu a virgindade?" e a avó que sempre dizia "Venha, meu filho. Fiz um lanchinho pra você."
Deixou tudo porque vivia num mundo só dele.
E não, nada disso é verídico. Ao menos não para mim, mas com certeza, eu digo isso com ABSOLUTA certeza, que no mundo tem dezenas desses adolescentes. Deixando tudo para trás porque tem medo de encarar, tem medo de se levantar e lutar. Medrosos.
Meus jovens, quando se tem 16 anos, nem sempre a namorada é futura esposa. E quando se ama sozinho, quando o tal amor não é recíproco, morrer não é a melhor opção. Todos sabem que dói, todos sabem que quando perde alguém que gosta de verdade, sente um vazio sem tamanho. Mas a dor diminui um dia, e passa a ser bem suportável. O suficiente para tocar a vida para frente.
E se você quer "causar", suicídio já está virando moda.
Quando estiver mal, querendo morrer. Planta uma árvore, um roseiral, disso você não vai se arrepender jamais. E com certeza, todos vão te valorizar mais por isso.
Fica a dica.

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