segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Erm, querido amigo, digo... diário...


E há vezes em que você acha que pode contar com alguém. Que pode ligar, partilhar seus segredos, seus desejos e vontades e escuta do outro lado da linha “escreve em um diário”.
Foi o que ouvi hoje mais cedo. Eu deveria me sentir ofendida, mas eu achei a melhor opção. Eu fiz isso por anos da minha vida e não tinha motivos para ser diferente agora. Quem foi que disse que agora, depois de vários anos, alguém ia se propor a ouvir minhas abobrinhas, sonhos, e meus segredinhos de penteadeira?
Então sentei no sofá, levei na esportiva, disse que tinha mesmo um diário, mas é que algumas vezes preferia falar para alguém por ser muito mais rápido. Escrever me comia tempo e isso eu não tenho sempre. Mas pensando bem, não me rouba tanto tempo assim.
Falando em tempo, estava despreparada para receber uma ligação dizendo “Boa tarde, Juciana? Aqui é da NomedaLoja e você foi selecionada para uma entrevista amanhã Às 4 da tarde, você aceita?”, mas estava MAIS despreparada ainda para responder “não, obrigada. Essa loja é um lixo.”.
Sinceramente não sei se quero, trabalhar em shopping é muita perda de tempo e a aprendizagem é pouca, mas alguém precisa pagar meus cartões e só eu posso fazer isso. “Estarei lá em ponto, muito obrigada!”.
Seguindo aos conselhos do meu fiel amigo...


Querido diário,
Não sei por qual motivo, mas às vezes não consigo expor eventualmente absolutamente tudo o que penso e tudo o que gostaria de cuspir, tudo o que não queria mais do lado de dentro, mas que sei que encararia de outra forma depois que visse que criou asas. Então mantenho guardado. Mantenho aqui dentro porque passarinho quando aprende a voar ninguém segura, e mesmo colocando de volta na gaiola acaba sendo um espaço pequeno demais, aí vira bicho bravo ou bicho morto. E vai doer saber que o que deveria ser bonito de repente não passa de podridão, ou de ferocidade.
Ah, Sr, Diário, às vezes eu quero cuspir porque isso é muito bonito e muito doce, mas não quero para mim. Não quero porque eu quis com os braços abertos e veio, veio lindo, me abraçou como uma manhã linda de verão e durou até o anoitecer. E o sol não voltou. Fiquei em um vale de sombras e quando amanheceu novamente eu já não era a mesma. Tinha criado rugas de risos que não eram meus. E eu quero os meus risos agora. Quero os risos que brotaram em mim e por algum motivos não me permitiram expor eventualmente... absolutamente.
Não quero me prender ao nada, diário. Não quero me prender ao que não se prende a mim. Alguns pássaros não nasceram para serem criados dentro de gaiolas, percebe? Nem os meus pássaros querem mais isso então não quero me agarrar ao vento. Não quero me apoiar no que não me convém. Então me prendo a ti, que é meu e não tem a opção de não ser.

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