segunda-feira, 23 de agosto de 2010

faça chuva ou faça sol


Às vezes procuro vestígios, mas a verdade é que não quero encontrar. E vou lembrando, vou lembrando vagamente das janelas dos olhos teus que permanecem fechadas enquanto está chovendo, com o rosto escondido por trás das cobertas fingindo que nada dói, sem suportar a dor que é real e o sentimento que é mais real ainda, mas que ninguém pode saber.
Não quero tocar seu rosto, nem enxugar suas mágoas que estão encharcando todo o colchão, eu não quero saber, eu tenho receio de saber e finalmente tomar uma decisão ou pior que isso, não ter decisão para tomar. Eu não quero que você fale nada e também não quero falar mais nada, eu quero só que me olhe e me diga alguma coisa com os olhos já em tempos de sol.
A questão é que há vezes em que eu pesquiso demais, mas não quero saber. Vezes em que eu falo demais, mas não quero ouvir e outras ainda que ouço demais e não quero dizer.
Eu encontrei um caminho certo esses dias, eu fingi que não era meu e deixei para trás, preferi ficar sentada ao seu lado na cama te esperando parar de chover enquanto nevava aqui por dentro, nevava uma neve tão fria e vermelha que eu temia que meu peito não pudesse suportar, mas suportou. Danado, já suportou tanta coisa que eu tenho até medo de quando ele não vai mais poder. Então quando eu cansei daquilo tudo, daquela perda de tempo, daquele “não deveria ser assim” e mais ainda daquele “Meu deus, o que estou fazendo aqui? Quem sou eu nesse momento?” daquela coisa que arrancava energia de mim e que eu nunca precisei para viver, apesar de que queria viver com, eu levantei.
Levantei e fui dando passos curtos e lentos com o propósito de que acontecesse algo no caminho até a porta, qualquer coisa serviria, qualquer pequeno gesto me seria o suficiente, até que me serviu. Você levantou bem devagar, sentou e ficou me olhando ir embora, daí então eu me encostei na porta deixando você pensar se eu deveria ou não deveria ir embora, eu tinha medo de ir. E se eu quisesse voltar e a porta estivesse fechada? Ou muito pior que isso, e se eu não quisesse voltar?

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