terça-feira, 1 de junho de 2010

A gota d'água.


Mais parecia que seria um dia de sol. Não tinha pássaros cantando para lá e nem para cá, pois a natureza quase que não mais se encaixa nos dias de hoje. Ouvia-se apenas buzinas, freiadas, “filhodaputa”’s e ainda dava para sentir um leve cheiro de café. Às 10 da manhã, fora do costume. É, 10 da manhã. Era terça-feira, 18 de maio de 2010, às 10 da manhã (Não foi um dia importante, a data veio apenas para ressaltar um dia qualquer).
E era um dia qualquer e por ser um dia tão qualquer eu não queria nada, não queria fazer nada, falar nada, nada, absolutamente nada. Eu nem sequer me sentia, estava neutra, a par do mundo, em um mundinho paralelo ao mundo real, um mundo meu, só meu, onde ninguém mais poria os pés. Não via graça na tevê, não queria sentar e ler, não queria ouvir música, nem dançar, nem rir à toa, nem rir sozinha no meu quarto em solidão como uma adolescente rebelde e desvairada aos 15 anos, sem precisão.
Não queria sair, tomar banho, trocar a roupa, ficar bonita e cair no mundo, não queria nada disso. Nada. O Nada nunca se fez tão presente em mim.

Então sentei no sofá, no sofá de enfeite. Sentei no sofá, fiquei um longo tempo pensando em milhões de coisas e nada me tirava do foco, nem a festa, nem a festa mais esperada do ano me tirava do foco. A festa de sábado que eu tanto esperei, que montei minha roupa e minha cartucheira nova. Que retoquei os cabelos e emagreci um pouquinho para não fazer feio, a festa não me tirava do foco. Parecia mais que eu não queria ir, e eu não queria ir.
Mas agora eu quero ir. E N L O U Q U E C E R. Enlouquecer, ouvir psy trance e no primeiro pulo não voltar mais para a superfície. Voar e não colocar mais os pés no chão. Sorrir uma vez e não deixar mais aquela estampa sair dali. Grudar e ser para sempre feliz. Eu quero ir, ir e me perder, quero me procurar e me encontrar, talvez até mesmo fora do foco. Ao menos ali eu quero me encontrar de alguma maneira, estou cansada de não me encontrar de maneira alguma. Quero seguir os conselhos dos velhinhos do dominó, aproveitar a juventude, usar protetor solar e não me viciar em cigarros. Não me viciar ainda mais em cigarros.

Estou cansada de ter dias iguais a essa terça-feira citada, cansada. Cansada de terças-feiras onde até o tempo se esquece de mim. Lembra que eu falei que parecia que seria um dia de sol? Pois então, de repente começou a chover. Veio a chuva de um lugar tão longe que mal se ouvia a chegada e chovia como se o céu estivesse bem pesado e quisesse desabar sobre a terra. Pois eu quero a chuva. Eu quero a chuva. Não vou nem fechar a janela porque não me importa se molhar toda a minha sala de estar. Eu quero a chuva, molhar os pés, acender os faróis, o frio.
Nem pensei duas vezes, coloquei minha roupa de banho e fui à piscina. Eu saí de casa às 14:14 e voltei às 14:41, bem irônico, eu sei, mas 20 e poucos minutos são muito pouco. Tantas tainhas e txibuns e uma vontade imensa de me perder nas águas, vontade de de repente ser água também, e ninguém mais me encontrar. Parecia que a eternidade estava ali, boiando ao meu lado. Com o mesmo frio e sentindo as gotinhas da chuva fazer cócegas no rosto. Imersa. Estava imersa em uma tristeza profunda, tão profunda que meus pés nem tocavam o chão. E todo esse escuro e toda essa profundida estava emersa do mundo, longe, for de onde eu estive um dia.
A eternidade se fez presente e de repente se fez saudade. Aiai, aquela velha vontade de derreter e não ter mais dor, nem saudade nem vontades e nem nada deste tipo. Vontade de ser taça de vidro e sair de boca em boca e de repente se repartir no chão, jogada por um poeta bêbado que de tão embriagado perde as estribeiras e me fazer em milhões de pedacinhos tão pequenos, mas tão pequenos que para recolher por completo teria que pressionar o dedo com cuidado sobre esses pedacinhos e depois lavar as mãos. Cair e virar pó.
Vontade de ser transformada em pó e de repente passar o vento e me levar, fosse para qualquer lugar, diante de qualquer inverno, de qualquer inferno, que o vento me levasse e me espalhasse pelo mundo. Talvez assim eu não me importasse com o tempo que não se importa comigo. Talvez os dias fossem apenas bonitos, nem tão curtos, nem tão longos, ou sei lá, eu não ia me importar mesmo, poeira não tem sentimento, não tem saudade.
Poeira não tem alergia, não tem vontades, nem compromissos e nem responsabilidades e nem a culpa de nada não ter nada certo por causa dela. Não que não dê, mas ela simplesmente não se importa. Ser poeira e dali por diante não chorar mais, não amar mais, não sentir tanto assim por algo que nem dói tanto assim. E eu que pensei que só o tempo não esquecia de mim. No mais, isso passa.

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