quarta-feira, 20 de maio de 2009

R$


Umas mentirinhas bobas muito bem compradas e a dor sempre viva naquele coração sem sonhos, aquele coração de puta, sem futuro, sem fundamento, apenas faminto de uma paixão mais cara, mascarada, cada vez mais cara, quanto mais, mais caro, caro, o caro amor que lhe resta já não tem tanto valor.
Mentirinhas apodrecidas! Como maçãs que estragam o resto da cesta, como o cheiro que preenche a sala, como a explosão calada que ensurdece os culpados.
São as mentirinhas sem cheiro, sem cor, sem nada, nem nada, nem afeto, nem nada. As verdades escondidas no fundo do baú por temerem o riso do sol, temerem o murro da raiva, o ódio explícito em um grito de terror. O sopro que tira todo o pó do lugar e a puta mal paga não pode mais cheirar e pira. Fica louca, psicótica, o vício não foi alimentando por um sopro sem sentido e o preço? O preço não sobe. Inflação. Dessa vez ela vai ter que fingir que goza. Malditas putas vazias, nem para se apaixonar por duas horinhas apenas.
Adeptas às mentiras fajutas, aquelas que dão um gostinho à coisa, um sentido ao ato, aquelas que não tiram o sério do lugar. E o coração? Nem sempre vazio, nem sempre vazio, ou sempre vazio. E se cheio, meu pai, se cheio é em vão. Que homem vai amar com reciprocidade quem abre as pernas por uma nota qualquer? Não há homem que queira ser o décimo da noite, o terceiro da noite, o primeiro, mas não o último. Malditas putas pagas e não-pagas.
Um boquete por uma G de pó, bonito isso para aquela mocinha. - Coitada, não deve ter nem dezessete anos, mas é gostosa, pagam mais caro.
Não vai à escola, não trabalha com carteira assinada, fuma cerca de duas carteiras de cigarro por dia - antes fosse o Marlboro vermelho -, vive com o nariz sangrando, viciada. Vive com os braços marcados, viciada. Vive caindo aos pedaços, viciada. Vive vendendo prazeres, prostituta. Vive sem poder dormir, zumbi. Morre todas as noites em uma cama qualquer e acorda ao lado de um homem que nem sabe o nome e durante a próxima noite ela vai poluindo as ruas. Com aquele perfume fedido e forte, os trapos caindo pelas laterais e todos os sentimentos que um dia nela brotaram, vão se quebrando e caindo pelo caminho, sujando calçada alheia.
Viciada.
Ainda menina e nem quer saber o que gostaria de ser quando crescer. Se passar dessa noite, o ciclo nunca pára.

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