quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Perdeu-se na curva do horizonte


Eu quero muito te encontrar esta noite, já fui no outro lado do lago, lá por trás das árvores que choram dias e noites sem parar até encher um rio. Nas pedras que protegem as lágrimas, no frio que aquece o medo, no olhar que vai depressa para um foco certeiro e se perde no caminho, desvia a direção. Procurei no inferno, no meu inferno particular. Segui o caminho das estrelas, a fumaça do café, o cheiro da solidão que vai e vem na minha rua me chamando para dançar. Eu dancei, dancei e não te encontrei na melodia, nem no salão, nem na bola de espelhos que refletia meus novos brincos. Amor, por trás de qual roseira você se escondeu?
Essa noite eu saí andando seguindo os pássaros que voavam mais baixo, eles sumiram na imensidão. Então a brisa leve e gélida passou por mim e tentou me levar com ela às pressas, resisti e por curiosidade fui seguindo e seguindo e acabei chegando em lugar nenhum.
Amor, por trás de qual voz aveludada você deitou e não quis mais levantar?
Procurei quase a noite inteira, nos desejos assassinados e jogados pelas janelas dos prédios mais bonitos, procurei nos copos de álcool que os adolescentes viravam na praça, procurei na garagem de casa, na caixa dos correios, nos lugares mais inusitados. Nos vinis na minha estante, nas fantasias esquecidas no meu guarda-roupa, procurei onde você nem sequer cabia.
Amor, dentro de qual buraco de fechadura você se escondeu?
Nem pelo alto das árvores você passou e em nenhum corredor esqueceu seu perfume, não estava nas casas de xangô, nem em nenhuma danceteria, nem embaixo da minha cama e tampouco esparramado no meu sofá. Você não estava, não estava, e quantas vezes mais você não vai estar?
Não estava dentro de nenhum dos meus livros, nem revistas, nem nos álbuns com fotos antigas.
Amor, em qual capítulo rasgado você se jogou?
Ou prendeu-se a uma ilusão qualquer e sumiu em busca do paraíso? Talvez tenha se perdido no alarme da madrugada, no caos, na tragédia, isso, talvez tenha se perdido na destruição.
Pois procurei no meu futuro e não te encontrei, enquanto o meu passado está cheio de você
Ou talvez você não tenha sumido como tentei me convencer a noite inteira, talvez simplesmente tenha ido embora.
Você simplesmente foi embora, entendi.
Entendi a ausência, a falta de conversa, falta de abraços e risos limitados, por que você não me falou?
Não tem problema, amor, não tem problema.
E se horizonte só tem um, você divide em dois, e no segundo tem curvas nas quais você não consegue se encontrar. Sei qual horizonte sem cor você decidiu seguir e desta vez eu não vou mais te procurar com cores. Eu só queria te ver. Portanto vou dormir, vou dormir para em último te encontrar esta noite, nos sonhos.

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