terça-feira, 22 de setembro de 2009

Quarto de hotel


Então lhe serviram uma taça de vinho. Ele não sabe bem o por que, lembra que estava preste a dormir quando bateram na porta do seu quarto de hotel.
- Senhor Bramalho?
- Pois não.
- Desculpa incomodar o sono do senhor, mas pediram para lhe servir uma taça de vinho antes da meia noite.
- Perdoe, mas eu não estou entendendo.
- Eu também não.
Ela era linda. Os cabelos deslizavam pelos ombros e cobriam sem querer querendo o olhar da menina. Tinha um sorriso tímido e se vestia muito bem, ele também não queria saber onde estaria o uniforme da garota. Pensou algumas vezes em convida-la para entrar e tomarem o tal vinho juntos, mas achou que seria uma verdadeira displicência de sua parte. Não sabia quem era a moça tão bela, nem de onde veio e tampouco porque estava servindo vinho sem um uniforme.
A moça, a linda moça que largou o carrinho com o Saint Amour já aberto e a taça já servida na porta do quarto de número 37.
- Hey, o que houve? – Perguntou enquanto a moça estava dobrando à esquerda no final do corredor.
Ela nem olhou para trás. Bramalho ligou para a recepção e informaram que a tal morena com olhos grandes e assustados acabara de ir embora às pressas. Era uma exata noite de quinta-feira, 23:28 hrs, 21 de agosto do ano de 2000.
Ele ficou sentado aos pés da cama tentando compreender a situação. Se de alguma forma ele conhecia a maluca com um perfume que não saía da entrada do quarto, se era alguma cilada de sabe deus quem, se na verdade ela era maluca mesmo e entregou o vinho no quarto errado ou mais ainda se ela havia criado aquilo tudo para conseguir algo. Se ela conseguiu, se não. Bramalho era meio nervoso e saiu inquieto pelos corredores do hotel, no andar de baixo ele ouviu a gargalhada que ecoava há exatos 8 anos em seu subconsciente. Sabia que era Lysa. A gargalhada parecia uma melodia muito bem feita, ele ia seguindo as notas musicais como as crianças seguiam as borboletas no jardim quando estavam na casa da vovó. As notas falantes levaram Bramalho à porta do quarto do andar debaixo. Ficou parado em frente a porta do quarto dela enquanto pensava se tocava a campainha e se por acaso tocasse, o que iria dizer. Enquanto colocava a mão na cabeça para tentar segurar o desespero com uma das mãos, a porta foi aberta. Fugiu um cachorrinho e um rapazinho atrás do cachorro. O menino tinha covinhas no rosto e os dentinhos retinhos, um sorriso lindo e singelo como o de Bramalho.
- Ele puxou ao pai. Hahaha.
A dona da risada tinha uma pele macia como a de uma maçã, o sorriso bonito como o de um coringa, o olhar terno como o de um bebê. Ela o viu e foi andando em sua direção. Quando os braços estavam tão pertos e os lábios eram quase um só, ele acordou. Com o rosto inchado de tanto chorar, jogado aos pés do túmulo de Lysa em um cemitério florido perdido na Av. Niemeyer. No dia 21 de Agosto, em uma coincidente quinta-feira, tal qual no sonho. Com o mesmo Saint Amour manchando o seu novo terno e molhando a sua carteira de cigarros. A moça que havia lhe servido o vinho estava passando no exato momento em que ele pegou um cigarro para acender. Ela abaixou bem perto, ele sentiu o seu perfume, ela pediu licença para sentar e ele lhe deu uma carona até em casa.Há cinco anos que ele não se ajoelha mais diante do túmulo da mulher que matou o seu filho mais velho.

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